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Uma queda, que não o foi

Editorial

Foi com surpresa, mas sem espanto, que os guardenses souberam da notícia segundo a qual Ana Manso poderá ser demitida da presidência da ULS Guarda. Estranhamente, alguns dos indefetíveis da ex-líder do PSD da Guarda foram os primeiros a regozijar-se com a notícia bombástica do “Correio da Manhã”. E isto sim é que é espantoso. Alguns dos que “oficialmente” têm mostrado maior proximidade (ou dependência) da antiga deputada, deixaram entrever uma estranha satisfação, um misto de alívio com convicção, depois de mais de uma dezena de anos de convívio com Ana Manso e, em muitos casos, serem parte efetiva de uma clientela interesseira. Mau sinal para quem ainda tem tantas pretensões políticas e tantas vezes é apontada de “regresso” a outras lides, nomeadamente pelo seu intuito (desígnio) de voltar a ser candidata à cadeira maior da Câmara da Guarda. Na verdade, depois da nomeação do marido Francisco Manso para auditor do Sousa Martins, e a imediata e respetiva exoneração a que foi superiormente obrigada, pensava-se que Ana Manso iria resignadamente limitar-se ao papel de administradora hospitalar. Mas não. Mesmo a gestão cinzenta que lhe é atribuída, com a maior obra do distrito parada há meses por falta de dinheiro e soluções, e os habituais tiques de que tanto se fala de colocar os apaniguados nos lugares abertos ou que se vão abrindo, Ana Manso foi crescendo e voltou a ocupar o lugar de “candidata a candidato” à presidência da Câmara. E no momento em que recuperava o protagonismo e afirmava o seu sucesso (ou disfarçava habilidosamente o enorme insucesso), voltam a rufar os tambores que a tombam estridentemente.

Mas os inimigos podem esperar.

Muita gente leu apenas o título do “Correio da Manhã” (desmedido e provocador) e nem se deram ao trabalho de ler a notícia. Ana Manso fica fragilizada mas não caiu. A imagem que a página do diário retrata é a de alguém que já perdeu a confiança do ministro e que está dependente de melhor avaliação técnica ao desempenho de administradora. Mas o mais interessante é que fica a ideia que não cai ou ainda não caiu porque o partido a está a segurar (ou que o partido precisa de tempo para escolher substituto). Até quando? Para já fica o recado: se as coisas não melhorarem é demitida em outubro. Ana Manso tem, pois, três meses para, um, minorar os prejuízos da nomeação e posterior destituição do marido, que ainda não foi esquecida no ministério; dois, para justificar que posteriormente tenha nomeado, sem pudor, o marido para a Comissão de acompanhamento das obras do Hospital Sousa Martins (suspensas desde 9 de abril, mas que continuam a ter Comissão de acompanhamento e será esta Comissão que paga o salário a Francisco Manso para acompanhar as obras paradas…); três, para encontrar solução e financiamento para acabar as obras, equipar e pôr a funcionar o “novo” hospital, que os guardenses esperaram durante dezenas de anos; e, quatro, fazer das fraquezas forças, conseguindo demonstrar que tem a arte e engenho para ultrapassar a situação e concluir com sucesso a missão que lhe foi atribuída e cujo desempenho vai sendo posto em causa. Só assim sobreviverá. Só assim se poderá afirmar ao partido que agora a sustenta. Em outubro se verá, mas até lá… está de pé. Mas, observando algumas reações, os seguidores vão ficando pelo caminho.

Luis Baptista-Martins

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