Arquivo

Uma necessidade imperiosa

Eu não sei. Mas penso. E é a pensar que chego a conclusões. Falíveis, naturalmente. Mas são as minhas conclusões. Até que apareçam explicações mais plausíveis, tais conclusões são as mais verdadeiras para mim.

Aliás, pensar a realidade em voz alta, debater as questões que moldam o nosso viver coletivo, potenciar a intervenção plural nos destinos da comunidade, é a favor do desenvolvimento.

Levando tudo isto em consideração decidi, nas páginas deste jornal, pensar no coletivo e para tal convido os presidentes de junta das freguesias a NW do concelho de Vila Nova de Foz Côa.

Todos sabemos, ou melhor, devíamos saber que a principal missão de um presidente de junta de uma freguesia não é erguer muros e abrir caminhos que dão acesso às propriedades de quem nele votou. Isso é uma prática intragável numa democracia amadurecida como a nossa que já tem 39 anos! Mas é certamente, com a mais pura verticalidade, realizar o bem comum de todos os cidadãos.

E neste contexto têm relevante importância os laços de solidariedade que os leva a unirem-se e a conjugarem esforços para a satisfação das necessidades comuns, tais como dedicarem mais atenção e peculiares cuidados de forma a que os nossos idosos, autênticos patrimónios do saber e da experiência, vivam os restos dos seus dias em plena felicidade e alegria.

Estando as nossas aldeias, à semelhança de muitas outras do interior profundo, repletas de idosos, muitos deles afastados dos seus rebentos, dos seus parentes mais próximos, vivem o dia-a-dia abraçados com esse acerbo espinho chamado solidão!

Eu não sei. Mas penso. E penso que os Centros de Dia não resolvem, na totalidade, os problemas da terceira idade. Os serviços de apoio que prestam alimentação, cuidados de higiene e tratamento de roupas são insuficientes. Pecam por omissão de carinho, de convivência e do imprescindível acompanhamento permanente.

E mais: acredito que a curto/médio prazo, tais instituições figurarão no relicário museológico das boas intenções.

Por norma, os idosos quando começam a perder a independência e a ser pouco participativos são colocados, pelos familiares, em lares espalhados por esse país fora, ignorando-se as consequências nefastas que a distância e o contacto com pessoas nunca antes vistas lhes causam.

Num passado recente, comandava o destino do nosso concelho o engenheiro Sotero Ribeiro, as juntas das freguesias de Sebadelhe, Numão, Custóias, Hora e Cedovim uniram-se para, através da criação de uma IPSS, edificarem um lar de idosos no Vale da Teja, tendo inclusive, para o efeito, adquirido um terreno, hoje transformado num parque de estacionamento.

Não é meu propósito questionar, aqui e agora, o porquê do novo destino que deram ao terreno. O que realmente me importa é apelar à sensibilidade dos presidentes de junta das freguesias visadas de forma a consciencializa-los de que a criação de um lar de idosos no Vale da Teja – um lugar equidistante dessas freguesias – é uma necessidade imperiosa.

Coloquemos de lado o bairrismo exacerbado que nos envolve a alma e entoemos o hino da harmonia em prol de uma obra de suma importância para a idade de ouro, a qual, um dia, poderemos pertencer.

Pugnemos para ter os nossos idosos ao pé de nós. Ali mesmo ao estender da mão, permitindo-nos visitá-los mais assiduamente, porquanto, no Vale da Teja, a distância já não é obstáculo.

Em ano de eleições autárquicas, esperemos que os autarcas que delas resultem olhem para esta causa de uma forma global e articulada em prol de uma melhor qualidade de vida para os nossos idosos.

José Augusto Fonseca*

* Residente em Numão (Vila Nova de Foz Côa)

Sobre o autor

Leave a Reply