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Uma mulher num mundo de homens

Ana Paula Gonçalves é a nova presidente da Associação Cultural e Desportiva Estrela de Almeida

Ana Paula Gonçalves assume ter o futebol «nas veias», daí ter aceite, aos 34 anos, o desafio de presidir aos destinos do clube da sua terra, a Associação Cultural e Desportiva Estrela de Almeida. Garantir apoio financeiro, retomar a actividade das camadas jovens e encontrar um treinador que assuma os destinos da colectividade para procurar a manutenção na Iª Divisão Distrital da Guarda, são as prioridades desta mulher que vem “intrometer-se” num mundo tradicionalmente liderado pelos homens. Ana Paula Gonçalves, a primeira mulher a presidir a um clube de futebol no distrito da Guarda, é há muito uma adepta ferrenha do “desporto-rei” e perante a possibilidade do clube da sua terra deixar de existir, já que mais ninguém quis assumir a presidência, não hesitou em assumir o cargo, embora esteja consciente das dificuldades que vai encontrar. «Pediram-me e eu aceitei logo, mas com a condição de falar com os outros directores para saber se tinha o seu apoio, porque é muito difícil uma mulher entrar num mundo de homens», reconhece, afirmando ter «pena» que o futebol acabasse em Almeida. Também o facto de ser da mesma geração de vários jogadores do clube, que chegaram a andar dois anos consecutivos nos Nacionais de jovens, como José Fernando ou Lucas, contribuiu para assumir a liderança da colectividade fundada há sete anos. De resto, o regresso das camadas jovens ao Estrela de Almeida é um «sonho» que Ana Paula gostaria de concretizar, pois seria um «bem precioso» para a vila, uma vez que o futebol serviria para a «muita juventude se entreter, em vez de andar por aí ao “Deus dará”», sublinha. No entanto, essa possibilidade tem que ser pensada «a longo termo», porque Almeida está inserida num «meio rural com poucas indústrias» que não garantem um elevado apoio financeiro, embora sempre vão contribuindo «com o que podem», sublinha.

Sobre a forma como os atletas vão encarar o facto de terem uma mulher a presidir ao clube que representam, a confessa adepta benfiquista não tem dúvidas que vai correr tudo da melhor forma porque a maior parte dos jogadores são do concelho e já conhecem «perfeitamente bem» a nova presidente. Quanto a eventuais “bocas” que possam surgir por parte de quem ainda não está preparado para ver uma mulher no banco dos visitantes, Ana Paula diz não estar preocupada, já que «uma pessoa quando aceita um cargo, já sabe que vai encontrar muita gente a favor e também contra». No princípio, até o seu marido encarou a opção com «alguma relutância», «o que tem uma certa lógica», diz Ana Paula. A principal tarefa é agora fazer face às dificuldades económicas da colectividade, com a funcionária da autarquia de Almeida a prometer apenas «trabalhar muito, e em equipa, de forma a conseguir arranjar meios para “termos pernas para andar”», avisando desde já que «não faz milagres», até porque ainda não está muito por dentro dos meandros do futebol distrital: «Sou como um bebé que começa a andar cada vez melhor com o passar do tempo», compara. Neste momento, e concretizada a inscrição do clube na Associação de Futebol da Guarda, as maiores preocupações da nova direcção são arranjar verbas para o começo do Distrital, através, entre outras actividades, da venda de rifas e encontrar um novo treinador que ofereça garantias da equipa protagonizar um campeonato tranquilo, uma vez que Segura Fernandes, técnico que terminou a última época, não deverá continuar. Apesar de alguns contactos em Almeida, ninguém se mostrou disponível até agora para dirigir a equipa, pelo que esta é mesmo «a questão mais difícil» a resolver no imediato. Com poucos patrocinadores, o que vai valendo ao Estrela de Almeida são «as ajudas da Câmara, Junta, comércio e população local», agradece Ana Paula.

Ricardo Cordeiro

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