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Uma mixórdia de temáticas

Um dia tinha que acontecer. A inspiração costuma chegar quando menos se espera. Algo que se sonha, que ouvimos, vemos ou lemos. Neste último mês muita água correu debaixo da ponte e eu, como habitualmente anoto onde posso para mais tarde desenvolver um tema. O meu azar desta vez foi que os motes para um artigo surgiam-me de repente e eu, impedido de apontar, pensava que me ia recordar mais tarde, mas não me recordo neste momento de nenhum, a não ser… Ah, afinal lembro-me de ter ouvido comentar que os EUA iam processar a Standard & Poors por terem contribuído ativa e fraudulentamente para a crise financeira internacional. Mas não foi há uns tempos que a mesma agência ameaçou baixar o “rating” a este país pelo seu gigantesco défice? Humm, que coincidência. Enquanto o fogo fez arder os PIG’s os EUA deixaram, mas entretanto a ganância da agência quis virar-se contra os EUA e agora há que processá-los em quatro mil milhões de euros. E o escroque do Oliveira? Ver a “Anatomia de um golpe” emitida pela SIC revolta o fígado. O BPN comportou-se em Portugal como o Goldman Sachs se comporta no mundo, com a óbvia diferença de escalas e de património, mas a verdade é que serviu de ninho de governantes mas também de covil de uma série de bandalhos que depois de nos terem governado aí regressaram. Estão à espera que este econo-psicopata morra de morte morrida, se não morrida, matada, para com ele levar segredos e salvar a pele de muitos dos que ainda nos governam, governaram, ocupam ou ocuparam os mais elevados cargos da hierarquia desta vetusta e malgovernada nação. Vêm-me as imagens do espantalho a falar a uma comissão de inquérito enquanto mastiga e deglute uma sandocha. Faz-me lembrar a imagem de outrem a mastigar uma fatia de bolo-rei para evitar perguntas incómodas. Um dia destes temos o Coelho a passos largos, a fugir a jornalistas, enquanto come uma sandes de leitão. Escandalosamente um ex-BPN foi encarnar na remodelação do Passos. O pristino e impoluto Relvas apressou-se a salvar Franquelim Alves, secretário de estado do empreendedorismo, alegando que este foi a primeira pessoa a chamar a atenção para a situação de irregularidades no BPN. Está bem abelha. Enfim, tudo bons amigos, aliás, “goodfellas”. Parece um filme do Scorcese.

Por cá, parece que um secretário de estado se deslocou com escolta, propositadamente, de Lisboa, para inaugurar um quiosque eletrónico numa junta de freguesia, a qual fenecerá em Outubro. Um BMW com vidros escurecidos para transportar suas excelências, um Mercedes com segurança, duas motas da GNR, tudo para fazer uma inutilidade completa. Continuamos com os bons hábitos de sempre. Festa, foguetes, fado, futebol, Fátima, fábulas, fingimento é do que o nosso povo gosta. A esta caravana olissipponense colou-se a esquerda e a direita. O senhor engenheiro, presidente da nossa moribunda CMG andou a passear pelo Vivaci com o governante e alguns senhores deputados. Foi visitar a Loja do Cidadão e animar o cada vez mais deserto centro comercial. Foi duplamente deprimente. Devíamos era transmitir ao secretário de estado adjunto a nossa indignação perante a ostracização do interior para ele levar recado a Lisboa, mas não, andamos a vergar-nos a eminências pardas, lambendo botas, improvisando espetáculos para agradar a suas excelências.

O que tem a dizer dos buracos nas ruas e estradas municipais senhor presidente? A placa à entrada da ponte do Rio Diz é o arquétipo da sua incompetência como autarca. Em vez de alertar para o piso em mau estado deveria era alertar para uma Câmara em muito mau estado. No PSD local a novela continua e o candidato do PS a gozar o panorama da bancada. Ainda não será desta que isto mudará.

Entretanto, num país à parte, um adepto chamou Messi a Ronaldo mas confessa-se arrependido. Disse que se indignou porque Ronaldo, ostensivamente, terá ignorado umas crianças que o chamavam, mas que agora está arrependido com a polémica gerada. Arrependido? Deveria estar orgulhoso por não alinhar na carneirada que idolatra jogadores de futebol como se fossem deuses. O Cristiano é um grande jogador mas é um pedante. A humildade é apanágio das grandes pessoas e este rapaz tem enorme carência desta qualidade.

Bem, parece que a inspiração surgiu “en passant” e entretanto acabou numa mixórdia de temáticas… Ora aqui está um título para um artigo, roubado da minha rubrica radiofónica predileta.

Por: José Carlos Lopes

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