1. Um ano depois da mais amarga derrota da direita, a “geringonça” em que ninguém acreditava, a aliança das esquerdas que em 40 anos de Democracia nunca tinha sido possível, governa sem dar sinais de erosão. Para os socialistas está bem e recomenda-se. Para os apoiantes, bloquistas e comunistas, mesmo quando se escondem atrás de alguma farpa discordante, pode não estar sempre bem, mas recomenda-se.
A oposição, depois de meses a bater na tecla da ilegitimidade da solução governativa encontrada, percebeu que era melhor meter a viola no saco e arranjar outros argumentos. E em julho, Passos Coelho, ao desejar boas férias aos deputados do PSD, num tom catastrofista, desejou aos parlamentares: «Gozem bem as férias que em setembro vem aí o diabo». E o diabo não chegou. Talvez por o presidente do PSD tantas vezes chamar por Belzebu, ele intimidado continua sem aparecer.
Quem entretanto bateu à porta foram os números, divulgados pelo INE, segundo os quais a economia portuguesa cresceu 1,6% no terceiro trimestre deste ano em termos homólogos e 0,8% face ao trimestre anterior, acima das previsões dos analistas. Estes resultados são uma boa notícia para o governo, mas são essencialmente uma excelente notícia para o país, até porque havia uma tendência de queda ao longo de 2015. E há alguns anos que não havia um trimestre tão positivo – positivo pela inversão de tendência e positivo pelo crescimento efetivo.
Esta notícia surge pouco depois de se saber que a Comissão Europeia vai optar pelo não congelamento de fundos europeus a Portugal. A decisão foi justificada pela «evolução do atual contexto económico e orçamental» e com a conclusão de que não faz-sentido suspender os fundos (outra boa notícia para o governo e excelente notícia para o país). Ou seja, contrariando os piores cenários defendidos não apenas pela oposição, mas também por todos aqueles que só acreditam na austeridade como forma para o país sair da crise, Portugal vai recuperando alguma confiança e otimismo. Talvez valha pouco e não sirva para muito, em especial se considerarmos que Portugal é um dos países mais endividados do mundo, mas pelo menos serve para “levantar a cabeça” – “enquanto o pau vai e vem descansam as costas”…
2. Os resultados das eleições americanas continuam a marcar a agenda. Não é para menos. Passado o choque da vitória de Trump e mesmo assumindo que a democracia é isto, é aceitar que podem ganhar os piores, o presidente eleito continua a dar-nos razões para ficarmos mais e mais preocupados: a escolha do seu staff e a confirmação de que cumprirá com algumas das propostas apresentadas durante a campanha, da construção do muro com o México à expulsão de emigrantes, são a prolepse de que o pior ainda está para vir. Oxalá estejamos todos errados…
Luis Baptista-Martins