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Uma Longa Espera

Foi notícia o adiamento da vaga de despedimentos na Delphi. Segundo parece, o desvio para a Guarda de uma encomenda inicialmente destinada a uma fábrica da Roménia da multinacional americana permite uma carência de alguns meses ao desastre anunciado. Isto, desde logo permite a seguinte constatação: para a fábrica da Guarda, sejam quais forem as dificuldades da casa mãe, vêm as encomendas que esta decide. Pode ser verdade que a Delphi esteja em graves dificuldades, e eu próprio o constatei há duas semanas, mas é igualmente verdade que a falta de encomendas da fábrica da Guarda é consequência de decisões empresariais que desviam o trabalho disponível para países de mão-de-obra mais barata. Pode estar aí uma das razões para que a empresa se disponha a pagar indemnizações correspondentes ao dobro do exigido por lei, embora não repugne aceitar que esse pagamento seja uma tentativa de minorar o alarme social desencadeado pelo anúncio dos despedimentos.

Seja como for, aproximam-se tempos difíceis. Em primeiro lugar, para os trabalhadores e as sua famílias. Estes futuros desempregados vão ter graves dificuldades em arranjar emprego na região, onde se perderam milhares de postos de trabalho nos últimos anos. A Rhode, em Pinhel, a Sotave, em Manteigas, a Gartêxtil, na Guarda, colocaram no mercado da procura de emprego muitos concorrentes dos futuros desempregados da Delphi – responsável nos últimos anos, ela própria, por muitas centenas de despedimentos. Muitos deles encontram-se ainda à procura de emprego e cada fábrica que fecha significa o aparecimento de cada vez mais concorrentes a cada vez menos postos de trabalho. Em segundo lugar, a situação vem diminuir as receitas da Segurança Social e aumentar os seus encargos em subsídios de desemprego. Finalmente, vamos todos nós, habitantes da região, ser afectados. Vai ressentir-se o volume de negócios dos estabelecimentos comerciais e dos prestadores de serviços. O mercado do imobiliário, já em recessão, vai ter disponíveis os apartamentos e casas daqueles que decidirem procurar emprego noutras paragens, o que vai, força da oferta em excesso, depreciar as poupanças dos que aí investiram e pressionar para baixo toda a actividade de construção civil. A agravar esta situação, temos os muitos desempregados que nem sequer podem procurar outras paragens, reféns que estão dos créditos hipotecários para aquisição de habitação própria.

Entretanto, espera-se pela concretização dos investimentos prometidos no PLIE e nos novos centros comerciais. Até lá, o sustentáculo da economia da cidade vai continuar a ser o funcionalismo público e os muitos postos de trabalho que este ainda vai assegurando na região. É por isso pouco surpreendente o anúncio das obras no Hospital, a manutenção da maternidade na Guarda ou o previsivelmente rápido desenlace dos muitos nós burocráticos da PLIE.

Sugestões:

Uma efeméride: os quarenta anos de Sargeant Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Há uma boa introdução ao álbum em http://www.bbc.co.uk/dna/h2g2/A823420 (cortesia do Vasco Queiroz).

Por: António Ferreira

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