«Quantos alunos têm a vossa escola?», foi a primeira pergunta que os alunos da Escola básica do 1º ciclo da Sequeira, na Guarda, formularam aos colegas da Escola de Maçaínhas, de onde uma voz feminina respondeu «somos sete!». E o espanto logo se notou nos rostos dos alunos da cidade onde a turma tem 17 elementos. A alta tecnologia e os meios técnicos, apoiados em protocolos e programas como o da “Internet nas escolas”, permitem hoje que muitos alunos do 1º ciclo do ensino básico do concelho estejam ligados em rede, possibilitando a comunicação e a descoberta de outras realidades situadas, muitas vezes, a poucos quilómetros de distância. E o fenómeno da Internet abre semanalmente janelas para mundos nunca imaginados.
Este projecto inovador engloba todos os anos lectivos das escolas primárias do município, contudo, são desenvolvidas «actividades diferentes em consonância com as turmas», explica a directora da Escola EB1 da Sequeira, Matilde Reinas, uma das escolas abrangidas pelo protocolo. «O projecto é bom, mas há algumas lacunas», lamenta, dizendo que os computadores são poucos, para além da «escassez de tempo» para dedicar mais horas a este projecto. É que há um programa para ser leccionado, lembra a professora. No âmbito do programa “Internet nas escolas”, a turma do 4º ano da Escola EB1 da Sequeira contactou na passada quarta-feira via Internet com outra escola do ensino básico do concelho. Depois de várias tentativas falhadas, devido a alguns problemas técnicos, a escolha acabou por recair na Escola Básica de Maçaínhas.
O entusiasmo e a ansiedade foram aumentando à medida que se foi conseguindo a ligação e a possibilidade de falar com outros colegas. Uma vez que o tempo é cronometrado ao segundo, porque só há um computador, os 17 alunos dividiram-se em grupos para todos poderem falar com quem estava do lado de lá. O problema foi que o microfone se tornou pequeno demais para tanta criançada.
Sete alunos, «mas bons»
Depois de saberem que estavam a falar com a Inês, que frequenta a 3ª classe em Maçaínhas, os alunos da Sequeira começaram logo a disparar perguntas na ânsia de saberem mais sobre a Inês e a sua escola. Quiseram saber de «quantos alunos têm a vossa escola?» e a voz da Inês ecoou na sala de aula da Sequeira para responder «somos sete». A surpresa espelhou-se nos rostos dos miúdos colados ao monitor e por isso voltaram a insistir: «Mas, de todos os anos?». A Inês apercebeu-se do espanto e afirmou, orgulhosa, «nós somos sete, mas somos bons». Na Sequeira fizeram-se contas e rematou-se de imediato, «nós, ao todo, somos 70!». A conversa prosseguiu e a professora Maria de Fátima Amarelo aproveitou para confessar que esta iniciativa é «muita benéfica para o desenvolvimento dos alunos», pois o futuro deles está muito dependente dos computadores, apesar de considerar que os miúdos já mexem no computador com grande facilidade, por vezes «até fico admirada», refere.
E, eles, o que pensam? O Victor considera que este contacto via Internet com outras escolas é muito benéfico, pois «pode fazer novos amigos». Já o Jaime não se imagina numa escola com poucos alunos, acha mesmo que «deve ser uma chatice», principalmente quando chega a hora do recreio e faltam colegas para chutar a bola. Por isso aproveitaram a Internet para convidar a Escola de Maçaínhas para um torneio de futebol. Até porque a barragem do Caldeirão «não fica assim tão longe», acrescenta o Daniel. Brincadeiras à parte, o facto daquela escola ter poucos alunos foi o que mais impressionou a turma da Sequeira, sobretudo o recreio, que «deve ser um silêncio», imagina Mariana. Mas deve haver contrapartidas, como destaca Fábio. É que sendo poucos alunos, a professora de Maçaínhas «não sai das aulas com dores de cabeça, como a nossa», exclamou, motivando uma gargalhada geral e a concordância silenciosa da professora. Outras perguntas ficaram para a próxima oportunidade, designadamente «em que parte da matéria se encontram ou sobre os testes», comentou a Maria. O programa “Internet nas escolas” é promovido pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia e conta com o apoio da autarquia e da Escola Superior da Educação da Guarda. O objectivo consiste em democratizar a utilização da Internet nas escolas do 1º ciclo do ensino básico, particularmente, no distrito da Guarda.
