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Uma escola feita de afectos

A Escola Evaristo Nogueira, em São Romão, ajuda os alunos mais desfavorecidos e cultiva o espírito de solidariedade na instituição

A Escola Evaristo Nogueira, em São Romão, (Seia), não é apenas uma instituição onde se ensina a ler e a escrever. Ali, os alunos também aprendem outros valores tão ou mais importantes para a sua vida. Cultiva-se o espírito de entreajuda e de solidariedade entre os alunos, funcionários e professores. «Fazer da escola uma verdadeira família» é um dos objectivos daquele projecto educativo.

A escola foi criada em 1991 como resposta às enormes carências que ainda se fazem sentir naquela zona da Serra da Estrela. Trata-se de uma região «muito desfavorecida e com muito desemprego», sublinha António Eduardo, representante da entidade. Actualmente, cerca de 90 por cento dos seus estudantes são «economicamente desfavorecidos», mas só 133 alunos são subsidiados pelo Ministério da Educação, num universo de 350 crianças, acrescenta. Mas quem não tem direito a qualquer ajuda do Estado é apoiado pela Evaristo Nogueira, através de algumas regalias um tanto ou quanto inéditas. Há quem almoce na escola e leve ainda o jantar para a família. Outros vão a consultas médicas, motivados por funcionários ou docentes. Ao longo do ano, muitos destes jovens são apoiados com roupa, mobílias, electrodomésticos, computadores, entre outras ofertas. «Às vezes temos coisas que já não precisamos em nossa casa, ou fazemos trocas e ficamos com coisas a duplicar. Então trazemos para a escola, porque há sempre alguém que pode precisar. Ainda no outro dia uma professora trouxe um computador», recorda António Eduardo.

Tudo porque esta escola assenta numa «pedagogia de afectos, que se contagia pelos professores e funcionários da instituição», aponta o responsável. Quando foi criada, a Evaristo Nogueira tinha objectivos muito claros: encontrar respostas para as carências económicas, sociais e culturais da zona Sul do concelho de Seia, que, pelas suas características morfológicas, é a mais pobre do concelho. Daí que a sua intervenção tenha sido marcada, ao longo dos anos, «por preocupações de carácter social, ao apoiar crianças e jovens em risco», frisa. Para esta acção muito tem contribuído a sensibilidade de professores e funcionários, que «numa atitude afectuosa e solidária, estão sempre em alerta para as situações problemáticas», sublinha António Eduardo. De resto, a pobreza e as «fracas expectativas» das respectivas famílias são os principais problemas daqueles jovens, indica.

“O Natal é todos os dias”

Segundo um estudo elaborado pela escola, mais de 50 alunos não vivem no seio de uma família tradicional, mas com a tia ou a avó. É por causa de todas estas circunstâncias que a orgânica da Evaristo Nogueira tem que «ser diferente», aliás todos os sectores têm autonomia para resolver os problemas dos alunos. «Não são precisas reuniões ou conselhos pedagógicos», ironiza. Por isso, tenta-se passar a mensagem que «o Natal é todos os dias». Entretanto, também foi criada uma bolsa de estudo com o nome do sócio-fundador, Dr. Manuel de Sousa, já falecido, que é oferecida a três alunos do 10º ao 12º anos. Os directores da turma no 9º ano recomendam o melhor aluno em termos escolares e outro, com dificuldades económicas. «É para que não ficarem pelo caminho», refere António Eduardo. Mas há mais iniciativas de solidariedade, a última foi no Natal, quando cerca de 30 famílias receberam um cabaz, com brinquedos, géneros alimentares e roupas. Além disso, a instituição oferece aos alunos formas de organização dos tempos livres, onde se estimula o desenvolvimento de competências socioculturais e pessoais.

Patrícia Correia

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