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Uma entrevista muito especial

Bilhete Postal

José Sócrates ao “Expresso” de sábado. Mais transparente que nunca, mais modesto, mais detalhado nalgumas opções. É uma entrevista que não fala das suas opções pela sustentabilidade energética, pela autonomia de Portugal em relação ao petróleo, dos gastos excessivos que podia ter cortado, das despesas que hoje não faria. As perguntas conduzem as entrevistas e por essa razão uma grande entrevista está limitada pela mediocridade ou a excelência de quem questiona. As perguntas são a mediocridade de sempre, a baixa política do assombro ao bom nome do homem. Ele saiu impoluto em todas as acusações e de facto provou com evidência que nunca foi gay e aqui fica claro que se fosse o teria assumido sem pudor. Isso faz desta entrevista um momento único de Sócrates. Isso comprova que os usurpadores do bom nome usaram tudo e falharam. Ele faz surf naquelas ondas de minudência – Fernanda Câncio, Diogo Infante, tio do Freeport… Se a sua homossexualidade era falsa podemos crer que muitas outras também o foram. Eu nunca defendi José Sócrates, nunca fui das suas linhas no PS, mas tenho de confessar que esta entrevista é muito cristalina e desassombrada, arrancada a um homem que amadureceu muitos anos e muitos saberes, que percebeu alguns dos campos errados que o conduziram: do enquistamento de opinião em que esteve, da sobranceria que utilizou, de más informações que recebeu, de más decisões que tomou. Esta entrevista teria sido brilhante se surgissem as decisões que mudaria: o BPN? a Parpública? as SCUT ? as PPP? A reforma das Urgências ou da saúde? O Estado reduzido numa reforma consistente e sustentada? Mas, tirando o BPN, nada disso coube nas perguntas. Sim, há outro Sócrates que emerge desta entrevista e eu, que lhe critiquei tantas opções e fui tão perseguido por alguns dos seus cães de fila, sinto-me no direito de hoje e aqui afirmar que gostei de ler e recomendar. Os homens evoluem e os grandes homens progridem. Aqui percebe-se que não és pequeno!

Por: Diogo Cabrita

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