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Uma Associação centenária, mas rejuvenescida

Bombeiros de Pinhel comemoraram 100 anos no último sábado na presença do ministro da Administração Interna

“Ser bombeiro é ser o primeiro”. Foi sob este lema que decorreram, no último sábado, as comemorações do centenário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Pinhelenses. A cerimónia presidida por António Costa, ministro da Administração Interna, ficou marcada pelo receio do impacto que as alterações ao sistema de voluntariado poderão provocar na vida de uma corporação que, apesar da provecta idade, garante ter ânimo para continuar por muitos e longos anos.

O governante sublinhou que os voluntários são «essenciais» e que o país «nunca deve esquecer a riqueza» que o voluntariado constitui. No entanto, «hoje enfrenta desafios grandes», disse. São eles os decorrentes da «alteração do povoamento do território» ou da «crescente e menor relação comunitária que as empresas têm», salientou. Por isso é necessário «olhar para o voluntariado com olhos distintos das características que tinha há 100 anos», daí que «a ideia de que é preciso ficar tudo como está para manter aquilo que é essencial é um erro», avisou o ministro. Aliás, «se não formos capazes de acompanharmos os tempos, deixamos morrer aquilo que é necessário salvar, vivificar e tornar perene para que, daqui a 100 anos, outros aqui estejam a festejar o segundo centenário». António Costa lembrou então a reforma do sistema de voluntariado, que está a ser desenvolvida em parceria com a Liga de Bombeiros Portugueses e já resultou na aprovação de três diplomas «absolutamente essenciais». O primeiro permitirá tipificar os municípios «em função do risco existente em cada um», o segundo consistirá em criar, «pela primeira vez na nossa história», um regime jurídico próprio para as Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários.

Por último, pretende-se criar um regime jurídico dos bombeiros portugueses que permita unificar os diplomas que hoje estão dispersos. «Queremos assegurar a mudança que permite fortalecer o espírito do voluntariado no séc. XXI», sublinhou, defendendo a necessidade de «enquadrar profissionalmente» o voluntariado, até porque esse estatuto «não significa amadorismo», acrescentou. Antes, o presidente dos Bombeiros de Pinhel já tinha considerado que o voluntariado «corre perigo». Vítor Silva salientou que «ser bombeiro é ser o primeiro, seja com ou sem farda, e continuamos confiantes que esta instituição e o seu corpo de voluntários terá de continuar a ser uma escola de virtudes». Para o ministro ficou um “recado”: «Nas suas mãos está a redacção do novo figurino do Serviço Nacional de Bombeiros. Este é o tempo para se construir uma nova página das relações entre poderes administrativos, políticos e Associações Humanitárias de Bombeiros», reforçou. Também o comandante interino, Luís Pereira, manifestou a preocupação dos “soldados da paz”, frisando que «nunca foi fácil ser bombeiro, mas é importante que se mantenha a continuidade de um serviço voluntário puro e de raízes familiares», numa alusão aos muitos jovens que a associação pinhelense tem no seu seio.

A sessão solene, realizada no Cine-Teatro S. Luís, contou ainda com a presença de Duarte Caldeira, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, e de Arnaldo Cruz, presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. Durante a cerimónia foi apresentado o livro “O Centenário”, de Maia Caetano, seguindo-se a inauguração do Monumento do Bombeiro, na Avenida Carneiro Gusmão.

Primeiros comandantes municipais nomeados em 2007

António Costa revelou que os primeiros comandantes municipais de bombeiros deverão começar a ser nomeados já em 2007, salientando a importância de «ter um núcleo profissionalizado dentro do voluntariado». Apesar do objectivo de ter comandantes municipais em todos os concelhos do país, o ministro da Administração Interna explicou que a nomeação daqueles responsáveis vai ser efectuada por fases: «Devemos ser selectivos e começar pelos concelhos onde existe maior risco, com mais corporações e onde o problema da coordenação entre corpos de bombeiros mais se coloca», numa tarefa que vai ser desenvolvida em parceria com a Liga e a Associação Nacional de Municípios Portugueses. A escolha e nomeação dos comandantes municipais estará a cargo dos presidentes de Câmara, enquanto o financiamento deverá ser repartido entre o Governo e as autarquias. Em relação ao fim do financiamento para a construção de novos quartéis de bombeiros, anunciado na semana passada, António Costa garantiu que o seu ministério tem «vindo a cumprir e vai cumprir» os protocolos já assinados. O ministro salvaguardou também «outros investimentos prioritários», como os que estão em curso «nos meios aéreos e no equipamento de protecção individual para os bombeiros». De resto, em 2006 foram investidos cerca de sete milhões de euros na aquisição desse equipamento, num «esforço» que se vai manter no próximo ano.

Ricardo Cordeiro

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