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Um sopro musical

Atmosfera portátil

O sopro é expressão. O sopro é arte. O sopro é vida. E com o sopro e o ar surge o assobio, que adquire uma forma musical muito própria. É neste contexto que César Prata, músico da Guarda e do mundo, construiu o seu novo e prometedor projecto musical, intitulado, pois claro, Assobio. Depois da aventura dos Chuchurumel ter terminado, de forma mais ou menos abrupta, em Janeiro deste ano, César Prata não perdeu tempo e enveredou por uma nova aventura musical. Já com uma larga experiência na área da música de raiz tradicional e popular, César Prata criou este novo projecto em apenas seis meses, e promete marcar o panorama musical português, haja atenção e justiça (por parte da comunicação social e público) para que tal aconteça.

Neste projecto Assobio, César Prata explora a fusão entre as sonoridades de vários instrumentos de cariz tradicional, como a viola braguesa, guitalle, ewi, mbira, adufe, bandolim, ocarina, flautas e ponteira, com as programações electrónicas e por computador. A partir de canções tradicionais do cancioneiro português (algumas com séculos de existência), César Prata reconstrói toda uma memória histórica e cultural, adaptada à linguagem artística dos tempos modernos. E é esse carácter de modernidade que o projecto Assobio vem acrescentar, como mais-valia, à música portuguesa (na senda do espírito que sempre norteou o malogrado João Aguardela). Mas Assobio não é só César Prata, visto que a voz de Vanda Rodrigues, cantora da Guarda, enriquece, sobremaneira, todo o espectro estético do projecto. Vanda detém uma voz de timbre grave, muito melodiosa, expressiva e de vibrato equilibrado. Uma nova voz portuguesa, agora revelada ao mundo, com potencial para continuar a crescer e a afirmar-se.

Assobio apresentou-se, em estreia absoluta, no Teatro Municipal da Guarda (Pequeno Auditório lotado) sexta-feira passada. Uma estreia em grande, com um alinhamento de canções bem definido, uma cenografia original e uma sonoridade com um equilíbrio perfeito entre a parte acústica e a electrónica. O projecto da dupla César e Vanda já tem mais de dez concertos agendados para os próximos meses, com passagens por várias Fnacs do país e com especial destaque para a participação no mais importante festival de música do mundo – Sines. Poderá ser a primeira grande oportunidade para que o Assobio se afirme a nível nacional (e não só). O disco homónimo, “Assobio”, é editado pelo TMG e vende-se online na página do Teatro. Um disco que terá como alvo um público diversificado e exigente, que tanto pode chegar aos amantes da música portuguesa como aos adeptos da música electrónica e world-music. A verdade é esta: se os Deolinda e A Naifa se afirmaram no panorama musical português, não há razão para que o Assobio não se afirme.

Sugiro uma visita à página da internet do grupo – www.myspace.com/assobio – sítio onde se podem ouvir as músicas disponíveis online, e dar especial atenção às músicas “D.Varão” e “Assobio” (esta com letra original de Américo Rodrigues), canções que são já a marca do projecto (e que têm forte potencial radiofónico). Um sopro novo está a abanar a música portuguesa. Um Assobio que poderá ser uma das surpresas mais interessantes da música portuguesa para este ano.

Por: Victor Afonso

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