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Um país dois sistemas

Crónica Política

É só um lamento incontido de quem se dá ao trabalho de comparar os tempos.

Um olhar com mais liberdade para o interesse que a paisagem do regime lhe desperta. A observar a distância que vai da realidade prometida à realidade sofrida. Aconteceram-nos nas mesmas datas os desafios sociais económicos que o país enfrentou.

Estivemos nas grandes tarefas da construção de um tempo novo ao mesmo tempo. Construímos ilusões quando pensámos construir o futuro no afã de construir o mundo. Pensámos um país na busca desesperada de segurança para eliminar a incerteza dos tempos. No abismo entre o possível e o real.

Mas rapidamente o Estado Social foi transformado em Estado clientelar por aqueles que pecaram, com intenção, principio, meio e fim, génese do défice e da dívida pública.

É esta a fronteira dos dois sistemas que coabitam no nosso país. De um lado o serviço público, que goza do privilégio, da presunção, da autoridade, da segurança no rendimento e da regalia na reforma. De outro lado todos aqueles que trabalham e vivem no setor privado, trabalhadores e empresários, com regras diferentes, privilégios a menos, obrigações a mais, no limiar da incerteza e do risco, contribuintes líquidos para o primeiro sistema. Sonhando com outra vida, mas vivendo apenas como calha.

O mesmo país, mas desafios diferentes, dificuldades diferentes, vantagens e privilégios diferentes. Não se trata da natural coexistência de uma economia de mercado num Estado organizado e estruturado como Social. Do que se trata é da rede clientelar que tomou conta do Estado Social, que dirige e atua com preconceito para continuar a assegurar o privilégio.

Por: Júlio Sarmento

* Ex-presidente da Distrital do PSD da Guarda e antigo presidente da Câmara de Trancoso

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