Arquivo

Um óleo para (quase) toda a vida

Empresa de Vila Cortês do Mondego é pioneira na montagem de “kits” que possibilitam o uso de óleo vegetal como combustível nos camiões

Perder tempo e dinheiro com constantes mudanças de óleo é um cenário que tem os dias contados para os camionistas. Uma empresa, sedeada em Vila Cortês do Mondego, no concelho da Guarda, é pioneira na utilização de um sistema de microfiltragem que permite ao óleo prolongar a sua vida útil, mas também na montagem de “kits” que possibilitam o uso de óleo vegetal como combustível.

«É mais barato e menos poluente», assegura António Sobreira, proprietário da RMFS- Transportes. Em relação ao preço praticado em Portugal para o gasóleo, o óleo vegetal vai «custar cerca de menos 20 cêntimos», sendo que também ajuda a «promover a agricultura nacional». Isto porque este óleo pode ser feito de colza, «que há em grande quantidade no nosso país». Simultaneamente, também o óleo usado dos fritos pode ser utilizado como combustível, «depois de devidamente tratado», uma vez que tem que obedecer às normas exigidas. De resto, e ao contrário do que normalmente sucede, «é ponto assente que vamos comprar o óleo de frituras usado até para as pessoas começarem a mentalizar-se que as coisas que são para deitar fora têm algum valor», refere. Por outro lado, o empresário garante que o rendimento dos motores dos camiões «não é afectado», não estando também provado que se verifique um aumento do consumo, «ao contrário do que sucede com o biodiesel».

O preço da instalação de cada um destes “kits” ronda os cinco mil euros, «com possibilidade de serem comparticipados», sendo que os camiões «podem ser novos que não perdem a garantia», explica. Já o sistema de micro-filtragem, que permite que um camião possa fazer, «pelo menos, até 500 mil quilómetros» sem mudar o óleo, custará «entre os 800 e os 900 euros». Claro que é «sempre preciso ir acrescentando o óleo», avisa António Sobreira. De resto, há um camião que actualmente se encontra a ser testado na Europa e que já percorreu 760 mil quilómetros com 125 litros de óleo sem qualquer mudança. «Mensalmente serão feitas amostras a partir de um determinado número de quilómetros e o camião mudará o óleo quando a máquina de testes o indicar», explica. Assim, como normalmente as mudanças de óleo são feitas aos 40 ou 50 mil, «estamos a reduzi-las em oito ou nove vezes. Isto tudo traduzido em filtros de óleo, mão-de-obra e em tempos de paragem significa muitos ganhos no final da vida útil de um camião», garante.

As montagens destas tecnologias inovadoras em dois camiões da RMFS terminaram na semana passada e, neste momento, os veículos já estão a circular. Aliás, são os dois primeiros camiões a serem montados em Portugal, sublinha o empresário. Os veículos testados pertencem à transportadora da empresa de Vila Cortês, até porque «o português gosta muito de ver para crer e há muita gente que ainda não acredita nestes sistemas».

No futuro, o objectivo é fazer uma cobertura nacional e, posteriormente, partir para «uma segunda fase internacional». Outra das vertentes deste projecto contempla a instalação de 18 bombas de abastecimento de óleo vegetal espalhadas um pouco por todo o país, com especial incidência para o «eixo Braga-Lisboa», dada a proximidade do interior com Espanha, onde o gasóleo «é muito mais barato», explica. Mais tarde, a RMFS irá implementar outro sistema inovador de uma micro-filtragem que permite que o óleo dos hidráulicos das máquinas dure 110 mil horas sem ser mudado.

«Pequenos industriais não vão investir na PLIE»

António Sobreira não foi parco em críticas à Câmara da Guarda, a cujos autarcas não reconhece «capacidade» porque «não dão garantias» aos investidores. «Arranjaram uma Plataforma Logística onde vendem o terreno a 25 euros o metro quadrado quando temos terrenos nas zonas industriais dos concelhos limítrofes praticamente a custo zero», critica o empresário que emprega cerca de 12 funcionários. No seu caso, comprou as antigas instalações da Fitlã, em Vila Cortês do Mondego, por «menos dinheiro do que se comprasse só o terreno» na PLIE. Vaticina, por isso, que os pequenos industriais do concelho da Guarda «não vão investir na Plataforma Logística».

Ricardo Cordeiro

Sobre o autor

Leave a Reply