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Um Mundo Que Já Não Existe

Em “O Mundo é Plano (Uma História Breve do Século XXI)” Thomas L. Friedman mostra-nos até que ponto o Mundo mudou nos últimos anos. A um ponto que parecia impossível há uns anos atrás. A um ponto ainda ignorado por muitos e, infelizmente, por boa parte daqueles que têm responsabilidades e poder de decisão.

Neste novo mundo, a caminho rapidamente da globalização total, Friedman aponta dez acontecimentos fundadores de uma nova realidade. Entre eles a queda do muro de Berlim, a emergência do Netscape e da Internet, novas formas de colaboração entre empresas e países, novos modelos de gestão, o hub digital.

Como linha geral de orientação, temos hoje a de que o combate das empresas e dos países é sobretudo pela eficiência e pelo derrubar de fronteiras e preconceitos. Se pelo preço de um engenheiro americano a Microsoft puder contratar cinco na China, não vai haver uma hesitação sequer – e a China coloca no mercado de trabalho, todos os anos, mais trezentos e cinquenta mil engenheiros. Não, não é gralha, são mesmo trezentos e cinquenta mil. Por outro lado, a produtividade das empresas privadas chinesas tem aumentado 17 por cento ao ano desde 1995. A Índia e o Brasil, outros colossos emergentes, são eles próprios ameaçados pela agressividade chinesa – de quem começam a ser, aliás, o maior concorrente.

Os americanos preparam o impacto do século XXI: as grandes empresas vendem tecnologia à China, ou à Índia, e aproveitam, através de outsourcing ou offshoring, os ganhos de produtividade ou as vertiginosas reduções de custos que a globalização dos mercados e as novas tecnologias permitem. A China também se preparou, e só em 2001, quando sentiu que estava pronta, quis aderir à Organização Mundial do Comércio, uma decisão que na nossa cegueira apenas relacionámos com a previsível destruição do nosso sector têxtil. A verdade é que a entrada dos chineses na OMC significou sobretudo a abertura ao mundo de um mercado de quase bilião e meio de consumidores.

E em Portugal que temos, já que não aproveitamos esse novo mercado, para contrapor à China? Que vantagens comparativas, que tecnologias de ponta? A verdade é que temos salários baixos, mas muito superiores aos chineses, muito menos dias de trabalho e mais dias de férias e feriados por ano, menos produtividade e mais custos. Ou muito me engano ou vamos ter de desistir de um ou outro fim-de-semana prolongado e começar a trabalhar a sério.

Por: António Ferreira

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