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Um impulso

Agora Digo Eu

O Miguel Gonçalves tornou-se recentemente conhecido do grande público depois de ter sido apresentado pelo ex-ministro Miguel Relvas como embaixador do “Impulso jovem”. A forma como foi escolhido para o cargo diz muito sobre a ligeireza do ex-governante: viu uns vídeos no youtube sobre o outro Miguel, achou-lhe imensa piada e, pronto, está decidido. Mas isto não diz nada sobre o Gonçalves, que faz pela vida, e, ao contrário do que ouvi e li, não anda por aí a vender “facilitismos” e a “banha de cobra”; pelo contrário, anda a insistir na mensagem de que sem trabalho não se consegue nada. Bem sei que isto são banalidades, lugares-comuns, mas nunca é de mais insistir neles, até porque, como dizia o André Gide, “Todas as coisas já foram ditas; mas como ninguém escuta é preciso sempre recomeçar.”

O Miguel Gonçalves é um convidado assíduo de várias instituições de ensino superior, que se sentem cada vez mais obrigadas a estar atentas ao mercado de trabalho. Há duas semanas, veio ao Politécnico da Guarda, e não desiludiu. Verdade que, como alguém disse, o seu discurso espremido se resume à frase popular: “faz-te à vida, rapaz”. Não interessa, porque ele também nunca pretendeu ser original na sua “mensagem”. O objetivo é abanar as pessoas, espicaçá-las, provocá-las, motivá-las. Foi impressionante ver um auditório a abarrotar de estudantes e, durante quase duas horas, não se ouvia uma mosca, o que diz bem sobre as suas capacidades enquanto comunicador.

O Miguel Gonçalves cometeu, todavia, um erro crasso ao associar-se a Miguel Relvas no programa “impulso jovem”. O Miguel diz que a sua ambição é “acelerar o mercado de trabalho”, criando redes, fazendo pontes entre jovens e empresários e este “impulso” pareceu-lhe uma oportunidade para passar a lutar com uma “metralhadora” em vez de uma “fisga”. A coisa como se sabe não correu bem, e começou logo mal na apresentação, com aquela sua metáfora (bastante infeliz, de facto) sobre os jovens e a venda de pipocas como forma de arranjar dinheiro para as propinas. Caiu-lhe meio mundo em cima, com muito snobismo insuportável à mistura.

Conclusões retiradas pelo Miguel Gonçalves deste incidente? Primeira, hoje, diz ele, percebe por que motivo as pessoas de qualidade lhe dizem há muito ser uma loucura meterem-se na política ou no governo: seriam insultadas, vexadas, trituradas, por melhores que fossem as suas intenções; segunda, o Miguel não se mete tão depressa noutra “causa pública”.

Portugal não chegou onde chegou por acaso.

Por: José Carlos Alexandre

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