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Um filme de João Canijo

Bilhete Postal

Tentei ver um filme de João Canijo e fui tentando perceber como brotaria dali o amor. O filme versa o tema da relação de amor e dura mais de duas horas. Como muitos filmes portugueses, quando vemos um carro ele não será abalroado, vemos um tipo à beira mar e ele não cai à água, vemos várias pessoas e ninguém se mata. É uma história portuguesa e portanto não é Hollywood. Também ninguém canta, nem há olhares enternecidos de mulheres indescritivelmente belas (não é Bollywood). Não temos momentos tensos de pessoas com discursos profundos, ou gentes extravagantes como no cinema francês. O nosso Canijo escolhe mostrar uma caminhada de minutos de duas mulheres. Elas falam e caminham e depois caminham e falam, e continuam a caminhar e a falar e ao longo de vários minutos esperamos que nos surpreendam. A surpresa é apenas que falam e caminham. Ao minuto 18 uma senta-se na casa de banho e a câmara fixa-se naquele momento íntimo até ouvirmos o autoclismo. A actriz defeca – Pasolini. Câmara parada, reflexo num espelho, uma cruz azulada perto. Dura minutos. Depois há quatro mulheres numa carrinha. Falam, conduz uma e vemos a estrada, o cinto de segurança e o assento. Perdoem-me que o diga mas comprei aquela peça com o jornal. Quatro euros que serviram para me macerar quando outro português fizer um filme. É sobretudo isto que me magoa. A crítica dizia maravilhas, referia ser um “filme solar”. Não há nada de errado em fazer um filme mau, mas em Caxinas, por certo, pode haver mais inspiração.

Por: Diogo Cabrita

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