Arquivo

Um Doutor (nada) Estranho

Opinião – Ovo de Colombo

Ele já não nos é nada estranho. Benedict Cumberbatch pode até ter um nome algo peculiar e difícil de pronunciar, mas tem sido visita habitual em nossas casas e é, atualmente, um ator a ter em conta no panorama do cinema mainstream. Mais uma vez, um ator das “Terras de Sua Majestade” tem a capacidade de atravessar o oceano e vingar nos EUA, pelo que a saga do Doutor Estranho, que terá mais filmes e cruzará a personagem com outras produções da Marvel, será apenas mais uma confirmação desta tendência.

Mas não estamos a falar de um ator qualquer. Benedict interpreta, desde 2010, o metódico Sherlock (Holmes, pois claro), na série com o mesmo nome da BBC, ainda que esses seis anos se traduzam em apenas três temporadas de três episódios cada. Ao mesmo tempo, tem sido presença assídua em sagas com grande visibilidade internacional, como “O Hobbit” ou “Star Trek”, e recriou a história de Alan Turing na tela, em “O Jogo da Imitação” (2014). A sua versatilidade tem sido por demais evidente nos papéis que nos tem apresentado, mas, em “Doutor Estranho” (2016), Benedict consegue até desafiar o entendimento que temos dos filmes Marvel e, por conseguinte, do universo criado à sua volta.

Assim como acontece com a generalidade das sagas de super-heróis, o primeiro filme sobre o Doutor Estranho leva-nos à origem dos seus poderes, bem como ao homem antes da mudança. Stephen Strange (estranho, em português) é um cirurgião respeitado e que gosta de correr riscos, desde que esteja seguro que poderá apresentar bons resultados. Individualista e egocêntrico, Strange tem alguma dificuldade em lidar com os seus sentimentos e acredita que não há segredos invisíveis ou inacessíveis à Ciência. No entanto, quando um acidente o deixa seriamente lesionado e com poucas probabilidades de voltar a trabalhar no que mais gosta, Strange fica desesperado e recorre ao misticismo de que usualmente faz troça.

A viagem, à boleia da Anciã (Tilda Swinton) e de Mordo (Chiwetel Ejiofor), faz-se por diferentes universos e de variadas formas, sempre desafiando a perceção racional da realidade. Com interpretações a grande nível, onde se inclui o vilão Kaecilius (Mads Mikkelsen), a narrativa do filme move-se com naturalidade – perante a sua aparente impossibilidade – e desafia também o entendimento que o próprio espectador tem do que o rodeia. “Doutor Estranho” não é um filme feito apenas para os fãs da Marvel e traz, uma vez mais, um ator que atrai variadíssimos públicos, desde o cinema à televisão, passando ainda pelo teatro. A próxima será Brie Larson, a Melhor Atriz nos Óscares deste ano, que interpretará a Capitã Marvel.

Sara Quelhas*

*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra

Sobre o autor

Leave a Reply