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Um bocadinho de Veneza na Guarda

Odete Maroco, de 42 anos, é autodidata e dedica-se à confeção de máscaras venezianas desde 2004

Odete Maroco, 42 anos, é operária fabril. Filha de emigrantes, nasceu em França e veio para a Guarda com apenas seis anos. No 9º ano singrou no curso de Artes e Design, mas as despesas elevadas obrigaram-na a desistir. Porém, o bichinho da arte continuou a fazer das suas e hoje Odete Maroco dedica-se, nos tempos livres, à produção de bijuteria e máscaras venezianas.

A criadora confessa que pensava há muito tempo em fazer máscaras venezianas. Contudo, o facto de não haver na Guarda essa tradição adiou o projeto. Só em 2004, desafiada por uma amiga, começou a entregar-se, principalmente na época carnavalesca, à confeção destas máscaras e até agora não mais parou. «Desde que me conheço que gosto muito de artes e adoro criar coisas novas. Há uns anos começaram a ver-se os tais cristais swarovski e perguntaram-me se não estaria interessada em usá-los», conta. Inicialmente, Odete Maroco achou não ter paciência para a tarefa por ser algo muito minucioso, «mas tive curiosidade, fui pesquisar na Internet e aquilo fascinou-me». A partir daí começou a trabalhar com o cristal swarovski, bem como com o checo, e hoje aplica-o nas suas máscaras (ver imagem).

Pega na base em pasta de papel, recorta, faz o desenho e aplica o que quiser até onde a imaginação a levar. É este o processo de criação de uma máscara veneziana que, segundo a artista, demora cerca de dois dias a ser finalizada. «Tenho que pintar, aplicar cola para que a tinta agarre, introduzir cola novamente para aplicar renda e depois é necessário ficar em repouso para secar», explica a criadora. Só depois da máscara estar efetivamente seca é que Odete Maroco avança para o passo seguinte, que consiste na aplicação dos materiais, como os cristais swarovski, as plumas ou as purpurinas. Todo este trabalho é feito em casa e, segundo a autodidata, «a criação destas peças é a minha terapia para me abstrair dos problemas e do mundo».

Quanto ao público-alvo destas máscaras, Odete Maroco adianta que a maioria dos seus clientes são mulheres até aos 50 anos. Embora seja um adereço ligado à luxúria, ao mostrar algo, mas não tudo, a criadora recorda que, no ano passado, fez uma máscara para uma menina de 10 anos. «Apesar de ser uma peça ligada ao mistério, qualquer pessoa a pode usar, até mesmo crianças», refere. Já sobre o que pretende transmitir com as suas máscaras às clientes, Odete Maroco sustenta que «há máscaras efetivamente poderosas e o que tento passar às clientes é a ideia de que, com aquela máscara, elas próprias se vão sentir poderosas. Depois também há umas mais simples, ligadas ao mistério», elucida.

A criadora lamenta que as pessoas vejam o artesanato como um artigo barato, «sem pensar no trabalho que dá fazer as peças e no custo dos materiais aplicados». Na sua opinião, essa ideia acaba por influenciar quem trabalha nesta área, pois «desvalorizamos o nosso trabalho porque não atribuímos o real valor à peça, mas, por outro lado, ficamos muito felizes quando vemos usar o nosso artigo, é mesmo muito gratificante». O preço das máscaras venezianas varia consoante a elaboração e os materiais aplicados, havendo adereços que podem chegar aos 10 euros. No entanto, habitualmente o valor ronda os 2,5 e 5 euros.

Sara Guterres As máscaras venezianas são símbolo de luxúria e mistério no período carnavalesco

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