A Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda foi esta semana autorizada a contratar 27 profissionais de saúde para fazer face ao impacto da transição para as 35 horas de trabalho. A alteração motivou no início deste mês o fecho de 16 camas em vários serviços do Hospital Sousa Martins, na Guarda, e o encerramento da Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia para colmatar a escassez de recursos humanos.
Anteontem, a administração hospitalar anunciou a entrada em funções de 16 enfermeiros e 10 assistentes operacionais, aguardando-se a contratação de mais um assistente técnico. Com este reforço, a ULS Guarda espera «garantir a continuidade da prestação de cuidados de saúde aos cidadãos, com qualidade e segurança», lê-se num comunicado. Apesar do encerramento de um serviço e da redução de camas ter causado alguma preocupação, a presidente do Conselho de Administração esclareceu que as quatro camas dos Cuidados Intermédios de Cardiologia «não estavam a funcionar como tal», localizando-se agora no serviço da Unidade de Cuidados Intensivos «onde há médicos 24 horas por dia». Isabel Coelho deixou a garantia de que «estamos a prestar um bom serviço ao doente e não a deixar doentes num serviço de Cardiologia onde só temos dois médicos e é humanamente impossível com eles assegurar 24 sobre 24 horas».
Uma justificação que pareceu não tranquilizar o presidente da Câmara da Guarda, que, à margem da última sessão das Conferências da Guarda, realizada na quinta-feira sobre o tema da saúde, disse aos jornalistas que «institucionalmente custa-me a aceitar que tenha que ter ouvido aqui uma explicação pública, quando acho que seria preferível que, sendo presidente da Câmara, era de elementar justiça que me tivessem informado que iam fechar estes serviços para que depois a própria ULS ou a Câmara desse públicas explicações».
PSD acusa Governo de satisfazer «caprichos da “geringonça”»
Já o PSD da Guarda exigiu ao Governo a contratação urgente de profissionais para que seja reposto o «normal e decente» funcionamento dos serviços dos hospitais da Guarda e Seia afetados pela escassez de recursos humanos.
«É hora de reclamar do Conselho de Administração da ULS da Guarda e do Governo uma resolução satisfatória deste sério problema que criou, pois quem cá vive tem o mesmo direito à proteção da saúde que os outros portugueses», refere a distrital liderada por Carlos Peixoto em comunicado. Os sociais-democratas consideram que a tutela, «apesar de insistentemente avisada, não cuidou de avaliar os impactos e as necessidades de alguns setores e apressou-se a satisfazer os caprichos da “geringonça”, determinando que os trabalhadores da função pública passassem a trabalhar menos cinco horas por semana».
Segundo o PSD, na Guarda, a medida «forçou o encerramento da Unidade de Cuidados Intermédios da Cardiologia e criou constrangimentos nos serviços de Pneumologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia e Oftalmologia».
Adolfo Mesquita Nunes fala em situação «particularmente grave»
As unidades de saúde da Beira Interior vivem uma «situação particularmente grave» devido redução do horário laboral dos enfermeiros, considera o vice-presidente do CDS/PP, Adolfo Mesquita Nunes.
O também vereador da Câmara da Covilhã, que promoveu uma conferência de imprensa na sexta-feira, afirmou que o que está em causa é não ter sido acautelado que «as 35 horas não se repercutem no serviço prestado às populações e no interior o que está a acontecer é exatamente o contrário». O dirigente centrista acrescentou que são necessárias «camas, enfermeiros, médicos e profissionais de saúde para colmatar esta decisão irresponsável do Governo». O caso da Guarda foi apresentado como exemplo do impacto desta medida e Adolfo Mesquita Nunes adiantou também que, na Covilhã, «há serviços a entrarem em colapso» e, em Castelo Branco, «a bolsa de recrutamento só foi aberta na quinta-feira, pelo que terá de se esperar vários meses para que se possam colmatar as falhas».
O vice-presidente do CDS-PP mostrou-se ainda preocupado com as consequências que este «agravamento das condições» poderá trazer na captação de novos profissionais e até de residentes para o interior. «Notícias como estas, todos os dias, a dizer que há falta de médicos no interior, não convencem, com certeza, ninguém a mudar-se para cá», acrescentou.
CHCB sem fecho de camas ou perda de serviços especializados
Também na sexta-feira, o Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) confirmou, em comunicado, «a necessidade de contratação de recursos humanos das várias classes profissionais afetadas, dado o natural impacto que esta alteração comporta».
De acordo com a administração do CHCB, o impacto está a ser minimizado «com a habitual compreensão e elevado profissionalismo de todos os colaboradores» da unidade hospitalar sediada na Covilhã. Além disso, já foi iniciada a contratação de pessoal, «designadamente enfermeiros, assistentes operacionais e TSDT em contrato de trabalho sem termo, estando a aguardar autorização para encetar várias outras contratações, no mais breve espaço de tempo». Apesar do número atual de enfermeiros do CHCB ser insuficiente para as necessidades, não está previsto «qualquer encerramento ou perda de serviços especializados, mas sim a estruturação eficiente dos recursos disponíveis atenta a procura expressa». A administração hospitalar garantiu igualmente que não haverá «qualquer alteração ou prejuízo para o tratamento e acompanhamento dos doentes internados afetos a essas mesmas especialidades».
Ana Eugénia Inácio
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