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UBI quer atrair alunos de Angola e Brasil

Na comemoração do 28.º aniversário da instituição, António Fidalgo exigiu que as universidades do litoral deixem de ter um «tratamento privilegiado» do Governo

Como forma de contrariar a quebra na procura do ensino superior por parte dos alunos portugueses, a Universidade da Beira Interior vai apostar na captação de estudantes estrangeiros, nomeadamente de Angola e do Brasil. O anúncio foi feito por António Fidalgo na semana passada durante as comemorações do 28.º aniversário da instituição, numa cerimónia em que o reitor aproveitou a presença do secretário de Estado do Ensino Superior para exigir que o Governo deixe de dar um «tratamento privilegiado» às universidades do litoral. Na mesma sessão, Passos Morgado, antigo responsável máximo da UBI, foi agraciado com o título de reitor emérito.

António Fidalgo realçou que o português é «uma das cinco línguas mais faladas em todo o mundo», o que é uma «vantagem extraordinária no mercado internacional do ensino superior» que tem sido «estranha e inacreditavelmente desaproveitada». O reitor reforçou que «só agora com a recente aprovação do Estatuto do Estudante Internacional» é que o ensino superior «passou a ser entendido como um serviço extremamente competitivo e de alto valor acrescentado que Portugal pode e deve rentabilizar». Neste sentido, o professor sustentou ser «muito melhor para Portugal vender educação superior do que vender petróleo», assegurando que a UBI «vai apostar forte na atração de estudantes dos países lusófonos, em particular dos dois maiores, Brasil e Angola». O responsável adiantou ainda que o Conselho Geral votou a propina de cinco mil euros para os estudantes internacionais e anunciou que «por 7.500 euros por ano iremos oferecer um pacote completo, incluindo propinas, alojamento e alimentação», naquela que é a «melhor relação de qualidade e preço no mercado universitário lusófono». Durante a sua intervenção, António Fidalgo anunciou ainda que propôs ao Conselho Geral a manutenção do valor das propinas, de 1.037 euros, o que sucede pelo segundo ano consecutivo.

O reitor que tomou posse em setembro agradeceu ao seu antecessor João Queiroz a colaboração que possibilitou uma «transição pacífica» e, perante o secretário de Estado do Ensino Superior, defendeu que «o que aconteceu este ano não pode nunca mais voltar a acontecer, que as instituições ricas do litoral, como as universidades de regime fundacional, tivessem um tratamento privilegiado face às do interior», referindo-se às «cativações orçamentais» a que, por exemplo, a UBI esteve sujeita, no que considera «uma injustiça de bradar aos céus». Como consequência, e «pela primeira vez», a UBI «fechou as contas com défice», o que de acordo com o docente «não foi por má gestão», pois «bastaria que o meio milhão de euros da cativação de 2,5 por cento das transferências do Orçamento de Estado tivesse sido descativado e não teríamos que recorrer aos saldos e que tanta falta nos fazem para investirmos e concorrermos a projetos comunitários».

Apesar das críticas feitas por António Fidalgo, o secretário de Estado do Ensino Superior nunca se referiu diretamente à questão das cativações. No seu discurso, Ferreira Gomes sustentou que o ensino superior «não está sobredimensionado» e que a UBI está «de muito boa saúde», mas «teve que, como o nosso tecido económico público e privado, de acompanhar o ajuste que muitas vezes foi duro». No final, aos jornalistas, o governante salientou que «o que estamos em condições de garantir é que vou trabalhar com os reitores e nos próximos dias discutir com eles um modelo de financiamento diferente ajustado às necessidades de hoje que permita dar instrumentos de gestão internos às instituições».

Passos Morgado «surpreendido» e «emocionado» com distinção

Um dos momentos altos da celebração do 28.º aniversário da UBI foi a outorga do título de reitor emérito a Cândido Passos Morgado, primeiro reitor da instituição. António Fidalgo, que chegou a ser vice-reitor do homenageado durante seis meses, considerou a distinção «justa e merecida» para além de ser representativa de «reconhecimento, gratidão e louvor». «Dotado de uma visão estratégica única, projetou, concebeu, fez. Personalidade forte, marcou a UBI no rigor da gestão, da parcimónia com os dinheiros públicos, da exigência com professores, funcionários e alunos», realçou o reitor, agradecendo a Passos Morgado pela universidade «que ergueu e nos deixou em legado».

Por seu turno, o novo reitor emérito confessou ter ficado «deveras surpreendido e até mesmo emocionado» quando António Fidalgo o informou de que o pretendia homenagear «18 anos após a minha desvinculação da UBI em termos profissionais mas não em termos afetivos, porque não se serve impunemente uma instituição durante 20 anos, 17 dos quais como seu responsável, sem que a ela se fique ligado de forma indelével e particularmente quando a nossa ação se revestiu de algum sucesso». Passos Morgado frisou também que uma homenagem «não se pede, não se recusa e não se usa, simplesmente aceita-se», pelo que não lhe restou «outra alternativa».

Atualmente com 80 anos, o professor natural da aldeia dos Trinta (Guarda) liderou a conversão do Instituto Politécnico da Covilhã em Instituto Universitário da Beira Interior, em 1979, e depois para universidade em 1986, tendo liderado a instituição até 1996, ou seja, durante 17 anos.

Ricardo Cordeiro Antigo responsável máximo da universidade covilhanense, Passos Morgado (à esquerda) foi agraciado com o título de reitor emérito

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