Arquivo

Turistrela vai construir Pousada do Sanatório

Concessionária do turismo na Serra da Estrela não está disposta a prorrogar os prazos à Enatur e prepara-se para assumir uma obra ambicionada desde 1998

A reconversão do antigo Sanatório dos Ferroviários numa Pousada será feita pela Turistrela, concessionária do turismo na Serra da Estrela, depois desta ter accionado junto da Enatur a cláusula de reversão do edifício. Em causa está o incumprimento do contrato celebrado em 1998, quando a Empresa Nacional de Turismo adquiriu o imóvel, concebido em 1927 por Cotinneli Telmo, pelo valor simbólico de um escudo com a contrapartida de o transformar numa pousada até 2001.

Esta possibilidade já tinha sido avançada por “O Interior” em Maio último, após ter apurado que a Turistrela não estava «disposta a prorrogar os prazos depois dos sucessivos adiamentos», confirmou na altura Paulo Ramos, presidente da empresa. Na base da decisão está o facto da Enatur «não ter possibilidades de construir a pousada» por não haver verbas disponíveis para o efeito, revelou Paulo Ramos. No entanto, e pelo que “O Interior” apurou, na base desta decisão deverá estar ainda a instalação de um casino na Serra da Estrela que aquela empresa e a Câmara da Covilhã pretendem construir para impulsionar ainda mais o turismo na futura aldeia de montanha nas Penhas da Saúde. Apesar de não estar a par do processo para a construção da zona de jogo, por estar a ser conduzido pela autarquia covilhanense, Paulo Ramos admite a hipótese de «juntar o útil ao agradável» e encontrar aí a solução financeira para a recuperação do edifício. Mas, avisa, «não há dependência», pelo que a Turistrela vai avançar para a recuperação do imóvel com candidaturas aos fundos comunitários através do Instituto de Turismo, o que deverá acontecer até ao final deste ano para que as obras possam arrancar no início de 2005.

Orçada em 10 milhões de euros, a pousada prevê a construção de 56 quartos – 35 dos quais duplos, cinco familiares e 16 suites-, uma suite presidencial no último piso e um health club, num projecto do arquitecto portuense Souto Moura. Sem efeito, fica apenas o concurso público internacional, ganho há mais de um ano pelo consórcio Ramalho Rosa Cobetar e a FCC, caso esta solução apontada pela Turistrela vá avante. Recorde-se que a recuperação do antigo sanatório em pousada correspondia a um dos investimentos anunciados pelo governo de António Guterres através do Plano de Aproveitamento das Potencialidades Turísticas e Ambientalistas da Serra da Estrela. No entanto, a sua construção nunca passou de uma promessa. Além da falta de financiamento, faltou ainda a vontade do Grupo Pestana em levar a cabo o investimento, uma vez que este tinha questionado a viabilidade daquela obra pelo facto de existirem estruturas similares na região: as Pousadas do Convento do Desagravo, de Manteigas, Belmonte e de Linhares da Beira.

“O Interior” tentou contactar os responsáveis pela Enatur, o que não foi possível até ao fecho desta edição por se encontrarem de férias. Entretanto, e apesar de querer «aguardar com calma» as negociações da solução apontada pela Turistrela, pois «nada está formalizado», o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela pondera a possibilidade de «pedir um inquérito para apurar responsabilidades» caso a Empresa Nacional de Turismo perca a obra. Isto porque está em jogo a perca de um património que custou simbolicamente um escudo ao Estado, mas que tinha 15 milhões de euros provenientes de fundos comunitários para a recuperação do edifício, tendo ainda sido gasto um milhão de euros no projecto do arquitecto Souto Moura para a reconversão daquela estrutura numa pousada, salienta Jorge Patrão. Uma verba originalmente destinada à construção de um parque de campismo na Serra da Estrela. Se a Enatur for responsabilizada, a RTSE poderá vir a exigir o reembolso do montante gasto no projecto de Souto Moura.

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply