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«Tudo poderia ter sido colocado em causa, desde que existissem modelos alternativos»

Cara a Cara – Entrevista

P – Até que ponto a renúncia dos órgãos sociais recentemente eleitos para a AECBP pode ter prejudicado a imagem da associação?

R – Não podemos, nem devemos, aligeirar os prejuízos causados com um processo ao qual a instituição foi alheia e claramente lesada na sua imagem e prestígio inerente à sua actividade local e regional. As grandes instituições têm que estar preparadas para todas as circunstâncias, mesmo imprevistas e, neste caso concreto, a AECBP responde à altura da sua grandeza graças ao prestígio adquirido, contando com um enorme apoio da maioria dos seus associados, conhecedores da instituição. Há também os fornecedores, bancos e parceiros, que têm manifestado, espontaneamente, a sua disponibilidade para continuar a apoiar os projectos, fruto da boa relação e, acima de tudo, pelo grau de confiança construído e estabelecido entre as partes.

P – Uma das razões invocadas foram os prejuízos superiores a 90 mil euros e dívidas a terceiros que ultrapassam os 175 mil euros. Não há razão para alarme?

R – Tudo poderia ter sido colocado em causa, a estratégia, o modelo de gestão, etc, desde que fossem apresentados e existissem modelos alternativos sustentados em estratégias e planos de acção claros e exequíveis no contexto do funcionamento da organização. É preciso esclarecer que os órgãos sociais cessantes manifestaram, em devido tempo, a intenção de não se recandidatarem, como aconteceu. Portanto, nenhum projecto concorria ou deveria concorrer contra a própria organização, tanto mais que, como foi público, a direcção ou os seus membros se abstiveram de qualquer comentário às várias manifestações de apresentação pública da única candidatura às eleições. Assim sendo, era espectável que existisse um projecto protagonizado por uma equipa coesa e pluridisciplinar, cujas relações de confiança entre pares fosse uma garantia. Por isso, tendo em conta os pressupostos anteriormente referidos, quero crer que se trata da referência avulsa de dados disponíveis e públicos e cuja análise não pode ser feita sem se ter em conta o enquadramento no contexto geral da contabilidade e funcionamento da organização. Por isso, acredito que não há razões para alarme, na medida em que o balanço e a relação entre activos e passivos estão perfeitamente assegurados para a continuação da actividade da AECBP.

P – Qual o trabalho que a actual comissão administrativa irá desenvolver até às eleições?

R – Centrar-se-à em dois níveis de intervenção concretos. Desde logo, assegurar interna e externamente o normal funcionamento da instituição, demonstrando a viabilidade e recolocando os níveis de confiança entre todos aqueles que acreditam ou dependem do projecto. Depois, garantir um processo eleitoral claro e transparente até à assembleia eleitoral, que acontecerá a 22 de Abril, planos estes que estão em marcha e têm merecido o interesse geral através das iniciativas apresentadas.

P – A AECBP é uma instituição com futuro?

R – É, com toda a certeza, uma instituição com futuro, tendo em conta o seu capital constituído por uma equipa e equipamentos ajustados e preparados para dar apoio aos seus associados e parceiros da região.

P – Como estão as relações da AECBP com a Câmara da Covilhã?

R – As instituições em causa não são clubes de uma mesma divisão que se confrontam pelo mesmo prémio. Pelo contrário, são organizações que têm os mesmos objectivos, com funções e obrigações certamente diferentes, mas complementares. Assim sendo, as relações deverão sempre respeitar os princípios das organizações que representam interesses diferentes, cuja maior responsabilidade dos interlocutores é a de representar os referidos interesses, garantindo percursos resultantes de processos negociais construtivos.

P – Considera a situação do comércio tradicional da Covilhã preocupante?

R – Considero, embora queira acreditar que os desenvolvimentos e iniciativas recentes, nomeadamente no processo eleitoral da AECBP, donde resultou um envolvimento directo entre comerciantes e autarquia, possam trazer benefícios objectivos e concretos a curto prazo.

P- Que medidas poderão ser tomadas para inverter esta situação?

R – Há muito tempo que a AECBP tem tomado um conjunto de iniciativas, cujo objectivo foi preventivo da actual situação. Porventura, um erro de toda a estratégia foi considerar que prever é mais eficaz do que inverter. Tenho ideia que as duas variáveis prévias nunca foram devidamente tratadas e, sem serem regradas, será difícil inverter a situação. O comércio é apenas uma função das muitas que determinam a vitalidade do centro urbano, sendo ao mesmo tempo vítima do insucesso colectivo. Para que se resolva, é preciso saber o que queremos globalmente para o centro da cidade, precisamos de uma estratégia. Por outro lado, o comércio precisa de reconhecer a necessidade de organização colectiva da classe, definindo princípios consensuais e aceites pelo grupo.

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