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Tu podes nunca querer saber da política, mas, lembra-te, a política quer sempre saber de ti!

O Partido Comunista Português comemorou no passado dia seis de Março noventa anos de história, motivo de regozijo para todos os democratas e gente de esquerda, mesmo os que, como eu, não partilham alguma da sua prática política.

O PCP confunde-se com a luta pela liberdade, pela resistência à ditadura e pela defesa na melhoria das condições de vida do povo português e isso é inegável e é justo reconhecê-lo.

Conhecendo o percurso histórico do PCP, analisando o que foi o discurso que permitiu os arremedos de ditadura na 1ª República e, simultaneamente, os fundamentos em que assentou a ditadura do Estado Novo, fico naturalmente apreensivo quando se generaliza que a política é um embuste e a maioria dos políticos uns trapaceiros e gente de carácter duvidoso.

A liberdade e a democracia servem para ser melhoradas, e só é possível com diversidade na discussão política em torno de alternativas que possibilitem a otimização da realidade económica do país e naturalmente feita com as pessoas enquanto agentes políticos responsáveis. Dizer pura e simplesmente que a política é uma treta e que quem está na política é para se encher, é um absurdo que, aceite na sociedade de forma generalizada, vai permitir o aparecimento e a aceitação de propostas messiânicas de contornos muito difusos, assentes em pessoas que dizem que nada têm a ver com a política e estão aqui com o objetivo apenas de servir, assim ao tipo de professores que mais tempo estiveram no poder sem lá quererem ter estado e que nunca quiseram ser políticos (vide um exemplo mais remoto, Salazar, e recentemente Cavaco Silva).

Agustina Bessa Luis, a mais talentosa romancista portuguesa viva, diz que «há nos portugueses uma sinceridade para com o imediato que desconcerta o panorama que transcende o imediato», e de certa forma isso explica uma parte do que vamos assistindo no quotidiano social em acentuada degradação de Portugal, onde de há uns tempos a esta parte os banqueiros são as figuras de maior notoriedade na relação mediatizada com o poder, mau grado os exemplos dos casos BPP e BPN, e os outros que hão-de vir.

O problema é que neste contexto em que se vive com a palavra “mercado” em contínuo no léxico dos políticos, politólogos, achólogos, comentólogos e por aí fora vamos assistindo ao continuado degradar dos atuais políticos que dão alguma razão a Tennessee Williams, na “Ultima Primavera”, que diz «o que é talento senão a habilidade para conseguir alguma coisa», e essa coisa é a perpetuação ou alcançar o poder a todo o custo.

Posso parecer elitista, mas de facto os dirigentes do Estado degradam a sua imagem estando sempre a aparecer na comunicação social e a maioria das vezes a dizerem trivialidades ou incoerências em relação a discursos anteriores; é sempre melhor ser-se “desejado que tolerado”.

Recentemente, o PM José Sócrates esteve na Guarda pela terceira vez para visitar as obras do hospital, tendo estado também pela segunda vez em meio ano em pleno túnel do Marão. Acho que o primeiro-ministro não deve andar a ver obras, isso é para os inspetores, deve resguardar-se para as inaugurar com toda a pompa e circunstância, porque este tipo de equipamentos são imprescindíveis para o bem-estar das populações e aí o PM sentirá a alegria do povo; aquele cenário de uma parede com tijolos onde José Sócrates falou aos jornalistas acabou por ser o corolário infeliz de um fim-de-semana que nada trouxe em abono de eventuais ganhos políticos do primeiro-ministro.

Nestas visitas, de vez em quando, os políticos têm que perguntar alguma coisa, porque faz parte do protocolo e ao cicerone que normalmente gosta de falar de tudo, mesmo que a maior parte das coisas não interessem rigorosamente a ninguém, e pouco mais conseguem senão dar uma tremenda seca a quem está ali pouco mais que para ser visto e filmado.

O eternizado putativo rei de Portugal faz uma visita a um hospital na região Centro e pergunta a um médico que está de serviço no banco em Pediatria: «Há aqui muito doente de baixa no seu serviço?» – a Pediatria do Sousa Martins é um serviço para crianças que não têm direito a baixa! Com reis destes imaginem a qualidade do baralho!

Por: Fernando Pereira

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