P- Bento Rodrigues é um dos rostos da informação da SIC. Como convive com essa responsabilidade?
R- É uma responsabilidade que se exerce respeitando os valores da informação da sic, o rigor, a credibilidade, a isenção e independência. É estar à altura da revolução que a informação da SIC representa. Aproximámos a televisão do país, acabámos com o medo de fazer perguntas, trouxemos o quotidiano para as notícias, com inovação e irreverência que se mantém, apesar destes 25 anos. É ainda a responsabilidade de manter uma qualidade permanente que nos permite ser a referência e, com isso, garantir a preferência de quem nos vê.
P- Há uma “marca” Bento Rodrigues na apresentação do noticiário?
R- Cada pivot tem as suas características e isso transmite-se ao jornal. Diria que a calma, o rigor e a clareza serão as duas marcas que tento deixar no meu trabalho. É fundamental que o público perceba a informação transmitida, muitas vezes complexa e difícil de explicar. Para alcançar esse objectivo é necessário estudar, dominar as matérias e escolher as palavras certas. Mas é também um trabalho de uma vasta equipa editorial e técnica. Um pivot é a cara de muitas pessoas sem as quais nunca conseguirá concretizar o objectivo de comunicar com eficácia.
P- Qual foi o momento mais embaraçoso que já passou em direto (enquanto jornalista)?
R- São vários os momentos que me ficam na memória. O mais perigoso aconteceu em 1999, no processo de independência de Timor Leste em que fomos a única equipa de televisão mundial e presenciar e filmar um confronto entre as forças internacionais de paz e as tropas Indonésias. Em estúdio, enquanto pivot, alguns dos momentos mais estimulantes têm sido as noites eleitorais. Os mais difíceis são os relacionados com grandes tragédias como os atentados ou a queda da ponte de Entre-os-Rios. Guardo ainda o mais emocionante, a emissão em que acompanhámos o resgate dos 33 mineiros chilenos encurralados durante 70 dias no fundo de uma mina. Foi como ver alguém nascer uma segunda vez.
P- O Primeiro Jornal de amanhã (sexta-feira, dia 23) será transmitido a partir da Guarda. Vai ser diferente do habitual, além da agenda noticiosa? O que está previsto?
R- Vai ser um jornal em que olhamos o mundo a partir da Guarda, com toda a actualidade, mas com a diferença de, em determinados momentos, também colocarmos o mundo a olhar para a Guarda. Teremos reportagens sobre a região, o património, os costumes e as pessoas. Vamos mostrar que longe do litoral há dificuldades, mas há também oportunidades e qualidade.
P- A SIC está a comemorar 25 anos. Qual é a história de Bento Rodrigues nesse quarto de século?
R- É uma história de emoção e de crescimento. É através da SIC que tenho tido o privilégio de testemunhar grandes acontecimentos, de viver momentos históricos, da independência de Timor ao título europeu de futebol, da guerra do Líbano às emissões especiais. Mas é sobretudo uma história que se faz a cada dia, em cada jornal, em cada reportagem, com respeito pela responsabilidade maior que é a de informar. Exerço uma profissão que me tem permitido conhecer o mundo, estar num palácio e na casa mais simples, falar com um presidente ou com o mais modesto dos homens, testemunhar a miséria e a riqueza. Enquanto jornalista, coordenador e apresentador, são 25 anos de uma realização que se renova a cada dia.
P- E o que viu mudar no país durante estes 25 anos?
R- Vi o autêntico sopro de democracia que foi a SIC. Vi um país a mudar, a modernizar-se. Nestas duas décadas e meia abriu-se o debate, conquistou-se o direito de perguntar, de um povo exigir respostas e não se contentar com mantos de silêncio ou portas fechadas. Vi mudar a forma como as pessoas vêm e se revêm na televisão.
Mudou a própria televisão, que deixou de ser formal e distante, que passou a ser mais ágil e móvel devido o notável avanço das tecnologias. Hoje conseguimos estar em directo quase imediatamente, em qualquer lugar, a qualquer hora. O ciclo noticioso é hoje muito mais rápido, a informação circula a uma velocidade vertiginosa e que exige mais capacidades ao jornalista e a toda a cadeia de elaboração de notícias. É um desafio constante e sempre voltado para o futuro, numa luta pela rapidez, pela qualidade e pela confiança, que é a única forma de nos distinguirmos no imenso rol de informação que está hoje ao alcance de qualquer um, num mundo globalizado o onde nem sempre o consumidor sabe reconhecer um conteúdo credível.
P- O que pretende a estação com esta digressão pelo país – e que durantes dois dias estará na Guarda?
R- Pretende reafirmar uma das características principais da SIC, que é a de estar junto das pessoas e perceber o país real. É uma forma de continuar a mostrar a diversidade e a riqueza de Portugal, que vai muito além de lisboa e Porto. No caso da região Guarda, é também uma forma de voltar a sublinhar alguns problemas que se devem ao facto de estar no interior do país. Mas, ao mesmo tempo, queremos mostrar os novos polos de atração, novas fontes de qualidade de vida. Queremos ainda possibilitar às pessoas um contacto mais directo com os bastidores da televisão sobre os quais existe sempre grande curiosidade. Quem nos acompanhar na guarda e em todo o país por onde passa esta digressão, vai ter a possibilidade de ver ao vivo como se faz e apresenta um jornal, tudo o que se passa atrás das câmaras, um outro mundo dentro do mundo da televisão.
Perfil:
Profissão: Jornalista, coordenador, pivot
Naturalidade: Lousã
Currículo: Inicio de carreira como jornalista na antena 1. Na sic desde 1994
Hobbies: Bricolage, leitura e cinema