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Tronco de castanheiro perpetuado em Famalicão

Escultura de arte pública com 7,50 metros de altura vai ficar exposta num dos largos da aldeia

Um dos largos de Famalicão da Serra, no concelho da Guarda, vai, dentro em breve, ser embelezado com uma invulgar peça escultórica, um tronco de castanheiro com cerca de 7,50 metros de altura, trabalhado por perto de uma centena de populares que foram desafiados a experimentar a difícil arte de trabalhar a madeira. Esta foi apenas uma das várias propostas alternativas que o Centro Cultural de Famalicão (CCF) ofereceu no último fim-de-semana durante a primeira edição do CativArte – Festa de Artes e Culturas.

Os pequenos João Veiga e Ricardo Marques, residentes nas cidades ribatejanas de Vila Franca de Xira e Coruche mas com família na aldeia do concelho da Guarda, decidiram “meter mãos à obra” e tentar recriar o «boneco da 7Up» no tronco, o que conseguiram com algum sucesso, apesar do trabalho que deu fazer o cabelo espetado do popular Fido Dido. Apesar de garantirem estar a gostar e de não acharem «nada difícil» trabalhar na madeira, os dois jovens têm outras ideias para o seu futuro. O primeiro quer ser «cientista» e o segundo quer conciliar a carreira de «jogador de hóquei» com a profissão de «veterinário». «Isto aqui é só na desportiva para passar o tempo», esclarece o pequeno. Igualmente estreante nestas andanças, mas mais velha, Sílvia Vaz, emigrante em França a passar uns dias de férias na terra do marido, resolveu testar a sua habilidade para trabalhar na madeira. Considerando esta iniciativa «muito boa» por «permitir que toda a gente se reúna», enquanto dava mais um toque na sua “obra” confessou «gostar muito de tudo o que sejam trabalhos manuais». Já José Alberto Mendonça contacta diariamente com a madeira, uma vez que tem como profissão ser carpinteiro. No entanto, apressa-se a esclarecer que é «totalmente diferente trabalhar a madeira em bruto» do que tentar esculpi-la, ao mesmo tempo que apontava orgulhoso para as suas criações: «Uma barriga, uns dentes, um nariz, um corno, um nariz e uma cabeça de papagaio». Ao olhar para o tronco que começava a ganhar variadíssimos “desenhos”, este famalicense emigrado em França considera estar a ficar «bonito», revelando que «gostava que mais pessoas participassem, principalmente os jovens para aprenderem a trabalhar com o martelo e o formão», frisa. Quem não resistiu a “trocar a caneta pelo martelo” foi João de Almeida Santos que achou esta experiência «fascinante», acreditando que a escultura iria ficar «lindíssima», mostrando-se «orgulhoso» por «um bocadinho» seu ir ficar perpetuado na escultura que vai «embelezar» a aldeia. Este atelier de escultura esteve a cargo de João Cruz Reis, artista oriundo da aldeia de Quarta-Feira, Sabugal, que realça que o principal objectivo desta singular iniciativa foi a «participação das pessoas». O escultor salientou que os populares «saíram-se muito bem, são uns artistas», graceja.

Também José Santos Augusto, cesteiro e empalhador de garrafões, ensinou a sua arte, embora a menos pessoas, olhando com «pena» o desaparecimento da sua profissão. «Veio o plástico e isto acabou», lamenta este «pai de 10 filhos, 25 netos e 14 bisnetos». Uma das “alunas” deste artesão local foi Cristina Rodrigues que considerou «engraçada e interessante» esta experiência, embora tenha sublinhado que «não é só num dia que se aprende».

Satisfeito com a animação, bem como com o envolvimento e a adesão da população às iniciativas programadas estava Vítor Amaral, presidente do Centro Cultural de Famalicão, realçando que o objectivo principal desta Festa de Artes e Culturas era precisamente o de «colocar as pessoas em sintonia com uma série de actividades artísticas de vária índole». O responsável frisa que não quiseram proporcionar uma cultura de consumo, em que as pessoas «não vieram só para ver, mas também para experimentar» neste «evento alternativo realizado no meio rural», criado para «fugir à banalidade das festas habituais nesta altura», frisa. Em relação ao local que irá acolher o tronco de castanheiro será escolhido «em conjunto» com a Junta de Freguesia, mas «em princípio» será colocado num dos largos da aldeia de modo vertical.

Ricardo Cordeiro

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