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Tratar da Saúde

Editorial

1. A “inauguração” do novo pavilhão do Hospital da Guarda foi o mote para reabrir um dossiê que há muito devia estar encerrado: o do «novo hospital ou hospital novo» da Guarda. Devia estar encerrado porque depois de mais de 15 anos a discutir a construção do «novo hospital», e depois de muito «arrastar os pés para a frente e para trás» (Sócrates dixit), finalmente existe um pavilhão funcional (esperemos), bem apetrechado (provavelmente) e moderno (pelo menos arquitetonicamente) para servir o distrito da Guarda.

Porém, não foi propriamente este o ponto final que os guardenses esperavam e ansiavam (pelo menos os que, durante anos, defendemos e pugnámos por um hospital novo e a requalificação integral do Parque da Saúde. E foi isso que pedimos, em 1997, ao então primeiro-ministro António Guterres quando nos recebeu em reunião privada, no âmbito do Movimento Cívico de que fui membro e porta-voz nesse encontro, e que nos foi prometido pelo então governante). Mas é o que temos. Um acrescento, com dignidade (ao contrário do anterior remendo feito há 25 anos) e que permitirá melhorar consideravelmente as condições para os utentes e para os profissionais do Sousa Martins.

Como salientou na sessão de inauguração o presidente da Câmara da Guarda, teremos agora pessoas a ser tratadas no novo hospital e pessoas a serem tratadas no velho hospital. E essa dicotomia é tão relevante quanto inaceitável. É urgente qualificar o pavilhão Sousa Martins, onde funciona a maternidade. E é urgente revisitar todo o projecto de requalificação do Parque da Saúde. Os guardenses, e os seus dirigentes, independentemente do lado da trincheira em que estejam, não podem aceitar que o projecto de recuperação dos pavilhões do Sanatório seja esquecido, que a mata continue a ser ceifada e abandonada (durante os anos foram milhares de metros quadrados de área verde que foi sendo ocupada) e que a qualidade que os guardenses de todo o distrito merecem continue a ser adiada. Andar estes anos todos a «arrastar os pés» foi criminoso para o interesse público, abdicar do projecto contratado pelo governo de José Sócrates é um erro inaceitável e esquecer tudo o que foi prometido e é necessário é uma desconsideração intolerável – e queremos saber porque demorou cinco anos a executar esta obra (concluída há um ano e só agora inaugurada) e como é possível ter custado 55 milhões de euros. Procurem-se e julguem-se os responsáveis.

2. A inauguração do Centro Nearshore da Altran no Fundão é uma notícia extraordinária. Para já, a unidade da multinacional francesa garante um investimento de perto de sete milhões de euros e a criação durante os próximos três anos de 300 novos postos de trabalho. Muito para além da crise em que o país vive mergulhado, este investimento no interior representa uma esperança e uma aposta na região. E muito para além do habitual do choradinho constrangedor com que convivemos no dia-a-dia, o presidente da Câmara do Fundão, no mesmo dia em que inaugurava o centro de Nearshore, anunciava que a autarquia está em negociações com mais de 20 investidores para se instalarem no concelho. Paulo Fernandes tem a noção das dificuldades, mas sabe qual é o caminho a trilhar, por isso, sem preconceitos, fala de um novo paradigma e percebe antecipadamente que aquilo que ontem parecia essencial num concelho só o é se houver pessoas, e para haver pessoas, tem de haver trabalho, tem de haver economia… Por isso, o Pavilhão Multiusos está a ser “repensado” para novas utilizações – inclusive, para instalar empresas.

Luis Baptista-Martins

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