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“Trancas à porta” depois de casa ardida

Riscos inerentes às inúmeras casas abandonadas e degradadas na freguesia de São Miguel estão a alarmar população

Uma casa abandonada ardeu parcialmente na Avenida de São Miguel na semana passada. Já não é a primeira vez que tal acontece, mas parece que só agora a Protecção Civil tomou consciência da gravidade e resolveu tomar medidas. Por isso, selou a casa e interditou a sua entrada. O edifício em causa é privado, mas está esquecido há muito tempo e, dada a sua localização, coloca em risco as propriedades que lhe estão confinantes.

Apesar de haver outras casas em situação semelhante na mesma zona, Granja de Sousa, coordenador da Protecção Civil Municipal, diz que aquela «é a que oferece maior risco». Por isso, a primeira medida tomada depois do incêndio foi selar as portas e janelas com tijolos de forma a interditar os acessos, «o que já está feito», sublinha o coordenador. De seguida vai ser criada uma comissão, «que também já foi nomeada», para averiguar a situação e tomar posse administrativa, uma vez que os proprietários «não reagiram às notificações», adianta Granja de Sousa. Após este último passo, «a autarquia vai tomar uma decisão» que passará pela recuperação ou a venda do imóvel, refere o coordenador. «Aquilo é um antro de marginalidade», garante João Nunes Velho, um vizinho do lado que diz ter-se «fartado» de pedir que resolvessem esta situação. «Mas só quando a desgraça acontece é que sou ouvido», lamenta. Para além da sua casa ser contígua à que ardeu, ainda tem o seu «”ganha pão”» no rés-do-chão – uma pequena mercearia – e se o fogo tivesse alastrado «ardia a minha vida», diz, aterrado, o comerciante. Por isso, João Nunes Velho tem vivido dias difíceis e assegura estar a conviver com um «problema muito grave».

Já é a segunda vez que a casa «começa a arder», explica, apreensivo. Mas apesar deste último incêndio «não ter tomado as proporções do ano passado», João Nunes Velho diz já não conseguir «dormir sossegado» e que «não gostava de morrer carbonizado». Desta vez foi um segurança que ali passava que o acordou, pois o sinistro deflagrou de madrugada, «e se ninguém dá conta?», questiona o comerciante, que espera que o problema fique agora «mais ou menos resolvido» com as medidas da Protecção Civil. Para João Prata, presidente da Junta de Freguesia de São Miguel, esta já não é uma situação nova, pois também há algum tempo que andava a solicitar a intervenção dos serviços municipalizados da Protecção Civil. Agora foi o incêndio, mas no Inverno, com o mau tempo, «voam telhas e outros bocados da casa devido ao estado de degradação», refere o presidente da Junta, que sempre temeu o pior naquele local e até «já tinha proposto aquelas medidas», mas como é uma propriedade privada não tinha legitimidade para as pôr em prática. Para além de selar a casa, na sua opinião, é também importante limpar o interior, «que tem muito material combustível», e o exterior do edifício «onde existe vegetação do tamanho da casa», avisa João Prata. «Há mais casos preocupantes como este na freguesia, nomeadamente muitos lotes privados que estão sujos com lixeiras e silvados muito próximos de estabelecimentos e edifícios», denuncia o autarca. Mas existem outras situações «complicadas e perigosas» que, para além de colocarem em risco as pessoas, são também «um mau cartão de visita para a Avenida de São Miguel», considera. É o caso da casa que se encontra no cruzamento para a Sequeira, na mesma via. Miguel Matias, o proprietário desse edifício cortado ao meio, responsabiliza a autarquia, alegando que «quando alargou a estrada deixou a propriedade naquele estado». Contudo, garante ter já um projecto aprovado para o local e que a partir de 30 de Julho «o que resta da casa é deitado abaixo para dar lugar a lotes», assegura.

Patrícia Correia

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