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Tradição e arte contemporânea no Paço da Cultura

Pintura abstracta de Alonso e ciclo “A Memória das Coisas” patentes até 28 de Abril

A arte contemporânea encontra-se com a tradição e a etnografia até ao final do mês no Paço da Cultura, na Guarda. As galerias do principal espaço cultural da cidade acolhem uma exposição de pintura de Manuel Angel Alonso e mais uma etapa do ciclo “A Memória das Coisas”. Desta vez o trilho da descoberta de objectos e afectos identitários das aldeias do concelho leva os visitantes até Aldeia Viçosa, Arrifana, Casal de Cinza, Pega, Ramela, Santana d’Azinha, Trinta e Vale de Estrela.

Fios e pedaços de lã, artesanato, minério, formas de sapateiro, torno de carpinteiro ou um alambique são alguns dos elementos que compõem esta mostra patente em três salas do Paço da Cultura, onde pode ainda encontrar uma esfarrapadeira, pão, livros de Monteiro da Fonseca e um inédito de poemas. Numa das paredes pode mesmo ler-se a sua célebre “Convocação do Povo”, escrita em 1925 para a construção da estrada de Casal de Cinza. O espaço alberga também tamancos, o sino da escola primária de Vale de Estrela, datado de 1892, situado logo à entrada, duas imagens de São Caetano e São Brás, tesouros de uma igreja desaparecida da Ramela, muitos ovos e pesos de teares, que se desprendem do tecto. Trata-se de uma exposição que difere das anteriores, uma vez que se aposta na mistura dos objectos representativos de cada aldeia e não em espaços próprios para cada localidade. Uma opção explicada por Américo Rodrigues, animador cultural, como sendo o resultado de uma fantasia: «Não importa a ideia de território. Aqui, somos todos de todas estas aldeias», refere. Esta edição de “A Memória das Coisas” tem ainda uma banda sonora original, da autoria de Paulo Adaixo, e é complementada com uma série de fotografias de Tiago Rodrigues sobre cada aldeia participante.

Uma outra galeria acolhe a exposição de pintura abstracta de Alonso. Natural de Santander, Manuel Angel Alonso está radicado na Guarda desde 1969. Cerca de duas dezenas de quadros, obras do primeiro período e mais recentes, revelam as influências do informalismo “maténco” catalão e do grupo madrileno “El Paso”, que no final dos anos 50 e início da década de 60 produziu a «melhor pintura abstracta de há memória na Europa». Alonso, um autodidacta, reivindica-se «aluno» de todos eles. Participou em inúmeras exposições individuais e colectivas no Norte de Espanha, tendo obtido em 1967 a medalha de ouro da Aula Universitária de Pintura em Santander com a obra “Punto Final”. Em 1999 abriu um atelier nas Amoreiras do Mondego, a poucos quilómetros da cidade, e retomou a pintura, abandonada em 1969 por razões profissionais.

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