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Trabalhadores recusam acordo com Delphi

Presidente da Câmara e Governador Civil trouxeram de Lisboa a garantia de que a Guarda terá «prioridade para investimentos estruturantes»

Os trabalhadores da Delphi da Guarda não aceitaram, na terça-feira, algumas das condições apresentadas pela administração da empresa para o despedimento colectivo das 321 pessoas que vão manter-se até ao fecho definitivo da fábrica, no final de Dezembro.

Sindicatos e administradores estiveram reunidos várias horas para definir os termos do processo, mas o encontro foi inconclusivo. As partes voltam a sentar-se à mesa amanhã porque os trabalhadores recusaram, por larga maioria, um acordo num plenário realizado anteontem após a reunião. «A Delphi propõe pagar dois meses por cada ano de trabalho, tal como nos despedimentos anteriores, mas faz exigências que são descabidas», adiantou Júlio Balreira, coordenador do Sindicato das Indústrias Transformadoras e da Energia (SITE). Em causa está sobretudo a obrigatoriedade dos operários manterem os mesmos níveis de produtividade até ao final do ano e a sua disponibilidade para fazerem formação em Castelo Branco ou na Polónia, para onde será deslocalizada a produção da Guarda. «São aspectos que não têm que ficar no protocolo, mas o mais grave é que a empresa ameaça não pagar os dois meses de indemnização a quem não cumprir o objectivo da produtividade», criticou.

A multinacional também manifestou disponibilidade para deslocalizar «dezenas» de funcionários da Guarda para Castelo Branco, mas «só garante salário e antiguidade na empresa. As deslocações ficam as expensas das pessoas que aceitarem», referiu Júlio Balreira. De acordo com o coordenador do SITE, no plenário os trabalhadores deram conta da sua «indignação e revolta por terem sido enganados pela Delphi, além de não perceberem a decisão de fechar a unidade da Guarda, considerada uma das melhores do grupo». O dirigente sindical defendeu ainda uma «intervenção política» no caso, porque a multinacional recebeu «milhares de euros para formação e modernização, pelo que é altura reclamar o que é devido». Questionado sobre a possibilidade de ocorrerem paralisações na empresa, Júlio Balreira admitiu que «tudo é possível neste momento, porque os trabalhadores estão muito revoltados», mas lembrou que a lei da greve deve ser respeitada. «O SITE não entra em radicalismos, pois podem ser prejudiciais às pessoas que aqui trabalham», disse.

«O momento é de união e não de divisão, nem de demagogia»

Também na terça-feira, o presidente da Câmara e o Governador Civil estiveram reunidos com o ministro da Economia, em Lisboa, de onde regressaram – tal como em 2007, aquando do primeiro anúncio de despedimentos, e no ano passado – com a garantia de que a Guarda terá «prioridade para investimentos estruturantes e mais rapidez no apoio às PME’s com projectos à espera de financiamento», sintetizou Santinho Pacheco. «Há abertura total para encontrar alternativas a este drama social», acrescentou, destacando a «vontade» do ministro Vieira da Silva em resolver o problema. Outra ajuda veio da Associação Empresarial da Região da Guarda (NERGA), que entregou ao Governador uma listagem de projectos a aguardar financiamento. «Este é um tempo de oportunidade para a Guarda e o distrito. Apareçam agora empresários com projectos em carteira e terão prioridade no ministério da Economia», garantiu Santinho Pacheco, que adiantou ter «aproveitado» as sugestões que o PSD tinha feito na véspera (ver texto ao lado).

No entanto, o Governador não deixou de esclarecer as coisas: «Tal como ninguém podia estar à espera que regressássemos de Lisboa com investidores na manga, também ninguém deve andar à procura de culpados. O momento é de união e não de divisão, nem de demagogia», sublinhou. E acrescentou que a proposta do PSD de aquisição das instalações pelo ministério da Economia é «a maneira antiga de resolver os problemas e que deixou por aí muitos “elefantes brancos”». Por sua vez, Joaquim Valente reiterou a necessidade de mudar de modelo económico e de aproveitar a PLIE e as PME’s, «empresas mais sólidas e menos dependentes de mão-de-obra», referiu. O autarca escusou-se a falar do passado, dizendo apenas que a Delphi foi «importante para o desenvolvimento do distrito e da cidade», e acrescentando que o produto que fabricava tinha «os dias contados».

Quanto ao futuro, garantiu que não vai «cruzar os braços até encontrar alternativas que minimizem este drama». O presidente da Câmara considerou ainda «determinante» que o espaço ocupado pela empresa de cablagens na Guarda-Gare mantenha o uso industrial e de serviços previsto no PDM. «A sua localização privilegiada e as boas condições das instalações são uma vantagem para o proprietário e para a cidade», destacou. Já Santinho Pacheco revelou que a intenção da multinacional é vender aquele património, antes de desafiar empresários e políticos: «Temos seis meses para transformar este momento crítico em esperança», declarou.

Luis Martins Sindicatos e administração voltam a reunir amanhã para elaborar termos do despedimento

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