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Touros não colaboraram na Lageosa

Primeira capeia da época atraiu multidão, mas defraudou as expectativas dos aficionados

Apesar da desilusão dos touros, a tradição cumpriu-se, no último domingo, na Lageosa da Raia por ocasião da primeira capeia da época. Durante um dia, a pequena aldeia fronteiriça do concelho do Sabugal foi o ponto de encontro dos aficionados, portugueses e espanhóis, cujas expectativas devem ter saído algo defraudadas com o espectáculo. Mas este foi só o início de quatro semanas cheias de festa, emoções fortes, valentia e bairrismo.

A festa animou-se pela manhã. O encerro decorreu rápido e sem problemas, apesar do número elevado de cavaleiros, perto de meia centena, ter perturbado aquele que muitos raianos consideram o momento mais belo do dia. Eram tantas montadas que lotaram totalmente a praça improvisada no largo principal da localidade. Seguiu-se um bom touro da prova, que bateu bem no forcão, aguçando o “apetite” dos presentes para o mano-a-mano da tarde. Contudo, as centenas de espectadores apinhados em andaimes, varandas e tractores depressa se desenganaram com a raça dos touros. Apenas um, o mais possante, de cor arruivada, salvou a honra da ganadaria. As suas investidas vigorosas ao forcão encheram o olho da assistência. «Que bien que bate el rúbio», exclamou Pablo Gimenez. Vindo propositadamente de Ciudad Rodrigo, o espanhol já começava a desesperar quando o terceiro touro entrou na arena. Um sentimento partilhado por alguns portugueses: «Finalmente um animal a sério», sentenciou José Ramos, da vizinha Aldeia Velha, bastante animado com a lide. O mesmo já não aconteceu com as anteriores, pois este aficionado chegou mesmo a pedir que o segundo touro recolhesse aos curros mais cedo. «Tenham dó de nós, que o calor aperta, e do animal», disse.

Na praça, o terceiro boi continua a investir nas galhas do forcão, tentando contornar a estrutura triangular de madeira de carvalho. Mas os homens estão atentos e aguentam o embate, orientados pelo rabejador, que, qual homem do leme, dirige uma nau em que 30 elementos, sincronizados e de olhos vidrados na figura que se movimenta à sua frente, tentam dominar o animal. Desta vez o duelo saiu a seu favor. Menos sorte teve um homem que passou um mau bocado no “salva-vidas” e teve que ser assistido pelos bombeiros no local a uma cornada sem gravidade na perna. Um “pinchazo” que acordou a praça do torpor causado pelo calor da tarde e motivou mais uma ida ao bar para muitos dos presentes. Ali, os aficionados procuram matar a sede ou inebriar-se ainda mais. Este é mesmo o segundo melhor lugar de uma capeia: «O primeiro é o forcão e só depois as bancadas», garante um bem disposto Rui Sanches. Rapaz da terra, também ele já pegou ao forcão, porque tem que ser. «Raiano que se preze tem que pegar à galha», anuncia. Quanto ao facto de alguns touros não terem correspondido, José “Nói”, um conhecido ganadeiro da região, tem uma explicação simples: «São como o melão que temos que abrir para saber se é bom. Com os touros, só depois de entrarem na praça é que vemos o que valem», garante.

A festa da capeia continua até ao final do mês na raia sabugalenes. Depois da Lageosa, do Soito, na passada terça-feira, e da Rebolosa, ontem, ainda faltam 11 possibilidades para vibrar com esta tradição de lidar os touros única em Portugal. As próximas acontecem dia 14 em Vale de Espinho, Nave e Aldeia do Bispo. No feriado de 15 de Agosto realiza-se a capeia de Aldeia da Ponte, cujo encerro é considerado o mais bonito da raia, decorrendo a 16 no Ozendo e Bismula. Alfaiates (dia 17), Forcalhos (21), Fóios (22) e Aldeia Velha (25) encerram este ciclo, que não fica completo sem o autodenominado “campeonato do mundo do forcão”. No dia 19, algumas aldeias medem forças no tradicional festival “Ó Forcão Rapazes”, que regressa este ano à praça de touros de Aldeia da Ponte.

Luis Martins

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