No passado dia 7, Isaura Ferreira viu parte do tecto do seu supermercado ruir, em Belmonte, enquanto, ali bem perto, no Carvalhal Formoso, a sua terra natal, o vento varreu tudo o que encontrou em redor da sua casa: portões de ferro, ramos de árvore, postes de electricidade e telhas.
O tornado, que na semana passada atingiu algumas localidades no Centro do país, também passou pelo concelho de Belmonte. No Carvalhal Formoso, a tempestade atingiu duas moradias e o armazém e a oficina de uma empresa de construção civil ficaram danificados. Isaura Ferreira foi uma das prejudicadas. Enquanto a chuva e o granizo faziam cair parte do tecto do seu comércio, a casa na aldeia estava à mercê do vento: telhas levantadas, vidros partidos e portão de ferro da entrada na piscina. «Eu estava em Belmonte a acudir a esta desgraça quando me ligam a dizer que a minha casa também tinha ficado com estragos e tive de ir para lá», contou a O INTERIOR. Os prejuízos foram essencialmente no exterior. As árvores do jardim tombaram e as telhas ficaram espalhadas pelo chão. «Se estivesse alguém na rua nesse momento não sobrevivia», garante a proprietária.
Apesar do susto, Isaura Ferreira acredita que foi «uma privilegiada», porque o interior da habitação não foi afectado. «Acabei por ter sorte, já a minha vizinha da frente ficou com tudo destruído», disse. Trata-se de Carla Martins, uma das proprietárias da empresa de construção civil, a mais afectada pelo tornado na região. Do armazém só restaram as paredes. Quando tudo aconteceu, estavam três funcionários no interior, que se abrigaram junto a uma máquina de rastos. Aqui, o futuro é incerto: «Ainda não temos noção de tudo o que aconteceu, não sabemos se é melhor começar do zero», desabafou a proprietária, que estima ter tido cerca de 450 mil euros de prejuízos.
«Tudo aconteceu num minuto»
Nesta empresa, que conta com 25 trabalhadores, os estragos não permitem sequer continuar a laboração, que por agora está suspensa por tempo indeterminado. Também a moradia de Carla Martins, no mesmo local, não escapou à força do vento e da chuva, que danificaram o recheio. «Caiu água, ficou tudo molhado, computadores, móveis… Foi uma tragédia muito grande», lamentou. Diz quem viu que «tudo aconteceu num minuto». Helena Mendes, habitante do Carvalhal, seguia de carro rumo ao cruzamento de Inguias. «Parei no stop e já não arranquei mais», recorda. Num repente, estava tudo no ar. Chapas a voar, ramos e folhas a cobrir o carro, postes de electricidade no chão. «Eu não sabia o que estava a acontecer, porque até vi carros pesados da empresa [de Carla Martins] no ar, então avancei um pouco e vi a rua cheia de árvores e parei outra vez», acrescentou. Segundo esta moradora, os bombeiros tardaram a chegar ao local. «Deviam estar a acudir noutras zonas, mas a verdade é que isto aconteceu às 16 horas e pouco antes das 17 ainda não tinham chegado», lamentou.
Para Helena Mendes, este foi, apesar de tudo, um dia de sorte. «Se tivesse chegado ao cruzamento dois segundos mais tarde, não estava aqui», garantiu. À semelhança do que aconteceu noutras zonas afectadas, o presidente da autarquia e técnicos do IAPMEI estiveram no Carvalhal Formoso no final da semana passada. Carla Martins faz parte do grupo de pessoas que ainda não sabe se terá apoios. «Nós não temos seguro, disseram-nos apenas que existe uma linha de crédito com juros mais baixos», disse. Contudo, o presidente da Câmara de Belmonte, Amândio Melo, defendeu, na altura, a activação do fundo de protecção civil. Noutras zonas da região, o tornado passou sem causar grandes prejuízos. Foi o caso da localidade de Rebelhos, anexa de Bendada, que também não escapou às vontades do vento. O cemitério foi o mais afectado, com várias campas destruídas. Mas a tempestade deixou para trás alguns sustos nesta pequena aldeia do concelho do Sabugal.
Catarina Pinto 
