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«Toda a gente reconhece que temos obra feita»

Entrevista a Carlos Pinto

P – O que destaca de mais positivo neste mandato? Tem alguma obra de referência?

R – Há várias obras que me deram particular satisfação. Não escondo que o lançamento do Parkurbis foi e é uma aposta ganha, pois criámos uma estrutura que pode abrir grandes perspectivas de qualificação da nossa estrutura económica e criar emprego qualificado. Há também o parque industrial do Tortosendo, que não existia há oito anos e é hoje um dos melhores do país, bem como o alargamento do parque industrial do Canhoso. Mas houve mais obras, como a Ponte Peso-Pesinho e o Complexo Desportivo da Covilhã. Abrimos igualmente o silo-auto da Praça do Município. Agora percebe-se a importância desta obra, que não foi tão fácil quanto parecia à primeira vista, pois vemos outras cidades com dificuldades em levar a cabo estruturas semelhantes. Nós anunciámos e fizemos. Também no domínio da cultura, abrimos várias infraestruturas, como a biblioteca, a Casa dos Magistrados, o Arquivo Municipal e o edifício Arte e Cultura. As obras nas freguesias também me deram particular satisfação, pois melhoraram qualitativamente. Neste mandato conseguimos resolver uma grande parte dos problemas ambientais, em termos de água e da recolha e tratamento dos resíduos sólidos, ao entregar o seu tratamento a uma empresa. A Covilhã será, até ao final do próximo ano, um concelho 100 por cento respeitador das normas comunitárias. Por outro lado, fizemos várias estradas e avenidas, requalificámos as Penhas da Saúde e já estamos a preparar a segunda fase para ser lançada no próximo mandato. Convém ainda realçar o nosso trabalho nos jardins, pois nunca uma cidade terá tido tantos jardins em construção em quatro anos. O Jardim do Lago é actualmente um grande sucesso e é o ponto de encontro dos covilhanenses. Temos obra feita. Isso é indiscutível e toda a gente o reconhece.

P – E de negativo?

R – O mais negativo é a continuidade de uma administração central que só serve para emperrar e burocratizar as decisões da Câmara, algumas delas importantíssimas. E houve uma ou outra obra que não foi conseguida por culpa da administração central. Outro factor negativo foi a suspensão da Lei das Finanças Locais, o que nos penaliza.

P – Na apresentação da sua candidatura disse que quer «continuar o ritmo de trabalho». O que falta ainda fazer na Covilhã?

R – O emprego e as empresas serão a nossa principal preocupação no próximo mandato. Vamos ter algumas novidades quanto ao investimento, área em que a Covilhã está em concorrência com outras cidades da Europa, e concretizaremos a terceira fase do parque industrial do Tortosendo. O desenvolvimento do turismo e da Serra da Estrela também são prioridades, sendo que as infraestruturas para a construção de 600 fogos no aldeamento de montanha das Penhas da Saúde vão arrancar no próximo ano. Pretendemos ainda realizar muitas das infraestruturas que faltam em termos de acessibilidades, nomeadamente as estradas Verdelhos-Sarzedo, Ponte Pedrinha-Ferro-Peraboa-Castanheira, Rio-Barroca e Pereiro-S. Jorge da Beira. E queremos, claro, que o Estado lance a via Covilhã-Unhais da Serra, cujo projecto está pronto. No campo das novas obras, a piscina municipal ao ar livre já está em concurso e, na área da cultura, vamos construir o grande museu generalista na zona do Castelo. Mas uma das acções mais emblemáticas do próximo ano será a recuperação habitacional, principalmente nas zonas históricas. A Sociedade de Reabilitação Urbana já foi constituída e com essa iniciativa vamos recuperar centenas de fogos na cidade e nas freguesias.

P – Qual é o ponto de situação dessa empresa de recuperação de imóveis degradados?

R – A partir da próxima semana, já vamos começar a dar visibilidade pública à sociedade através de uma série de empreitadas que irão arrancar no centro histórico da Covilhã. A publicação da legislação em “Diário da República” demorou muito, mas a sociedade está instalada e faremos mais obra do que a que temos realizado no PERID, pois vamos recuperar centenas de apartamentos e de casas.

P – Sente-se insatisfeito por ainda não ter concretizado as duas barragens prometidas no seu primeiro mandato?

R – Muito insatisfeito, mas essa é uma das falhas do Governo. Umas vezes mudava a legislação, outras procurava que nos rendêssemos a uma empresa multimunicipal entregando o nosso património… Mas os contactos desta semana apontam para que esteja muito próxima a entrega da concessão do domínio hídrico. Com isso na mão, vamos avançar.

P – É um projecto para retomar então no próximo mandato?

R – Não. É um projecto para ter evolução muito acentuada ainda este ano. Pelo menos, assim espero. Ninguém mais do que a Câmara da Covilhã deseja construir a barragem. Já temos o projecto e não precisamos de apoios nem de verbas da administração central para as concretizar. A situação de seca que vivemos tem votos piedosos e lamentos diários nas televisões por parte de membros do Governo, mas temos aqui um bom exemplo de como o nosso país não leva a sério estas questões. Já devíamos ter tido uma declaração do Ministério do Ambiente para fazer avançar todos os projectos de barragens que possuem. Ao invés, fazem-se anúncios e enviam-se postais para se poupar água, o que também é importante, mas não se tomam medidas estruturais para que uma próxima seca não nos apanhe a todos em situação de défice de armazenamento de água. Gostava muito que o Governo percebesse que a forma de combater a seca é armazenando mais água. E para isso, é preciso termos mais barragens, tal como fizeram a Espanha ou a França, que servem igualmente para produzir energia eléctrica. Apresentam-se grandes planos para a energia eólica, mas esquecem-se dos recursos hídricos, que também devemos aproveitar, sobretudo quando as Câmaras têm planos para esse aproveitamento.

P – Há quem atribua a inexistência das barragens à sua teimosia em não aderir à Águas do Zêzere e Côa…

R – É uma boa teimosia. Primeiro, porque a AZC não construiu ainda nenhuma barragem. Tomaram eles resolver o problema da despoluição do Zêzere. Segundo, era um sacrifício demasiado para a Covilhã construir a barragem e entregar um património de 10 milhões de contos. E mesmo assim, duvido que fossem capazes de a fazer.

P – Porquê?

R – Porque parto do princípio de que iriam ter as mesmas dificuldades em obter a licença. Não acredito que a licença esteja a ser dificultada apenas por não termos aderido à AZC, pois, se assim for, estamos perante uma chantagem.

P – Ainda acredita na construção do aeroporto internacional?

R – Porque não? Não há nenhuma decisão que retire essa ideia. Pretendo avançar com essa obra no próximo mandato. Aliás, temos estado a trabalhar na localização das novas pistas. Fala-se há mais anos na Ota e, como se sabe, estamos apenas nos discursos.

P – Como está o Centro de Artes?

R – Estamos a negociar com a unidade de gestão do Programa Operacional de Cultura. O projecto foi adjudicado, mas esta entidade diz-nos que o parecer do Instituto das Artes preferia outro projecto. Nós contestámos e, neste momento, estamos a trocar opiniões sobre o assunto. Contudo, espero que o apoio ao projecto venha a ser confirmado. A unidade de gestão refere um parecer feito numa fase em que existiam dois projectos. Agora só existe um e a vontade da autarquia tem que ser respeitada.

P – A obra ficará na gaveta se não houver apoio?

R – Como é evidente, não a poderemos lançar sem apoio dos fundos comunitários. Mas espero que tudo chegue a bom porto.

P – O Polis ficou também muito aquém das expectativas…

R – Quem disse isso? Vi isso n’ “O Interior”, mas acho um disparate total.

P – É que muitas das obras emblemáticas não chegaram a ser feitas…

R – Mas o que foi feito supera as expectativas. Só as expectativas do Governo ficaram aquém, pois as nossas nunca foram além das obras que efectivamente foram lançadas. Desde o início que se sabia que requalificar as cidades significava milhões de contos que não estavam disponíveis. Se houve expectativas defraudadas, foram apenas as dos responsáveis do Governo de então. Falaram como se houvesse dinheiro a rodos para tudo e todos e depois as verbas faltaram. É perfeitamente injusto responsabilizar-se as Câmaras pelo facto de não se terem feito algumas obras, que, aliás, não constituem prejuízo na medida em que os projectos ficam prontos para ser lançados logo que haja dinheiro.

P – A zona de jogo da Serra da Estrela é outro dos projectos que pretende lançar no próximo mandato?

R – Na semana passada fiz aprovar uma moção na Câmara porque não compreendo a posição do Governo. Acho que estão a ofender os interesses da região ao não confirmar a criação da zona de jogo. Não consigo perceber o que está a acontecer, não sei se é por sermos uma câmara PSD. O anterior Governo criou a zona de jogo e este não a confirma nem sequer nos adianta os motivos. O secretário de Estado do Turismo esteve há tempos na região e olhou para mim como se eu estivesse a dizer alguma coisa que não existisse na Madeira, de onde é originário. Mas também não há respostas da parte de outros membros do Governo com mais responsabilidades. O que revela bem como somos governados. Os dossiers são metidos nas gavetas e nunca mais saem de lá. É o jogo do empata.

P – Mas é um projecto de que não vai desistir?

R – Obviamente que não. Já estou habituado a que as coisas não me sejam oferecidas de bandeja.

P – Agrada-lhe o perfil do IC6 aprovado pelo Governo?

R – Corresponde, em mais de 80 por cento, àquilo que queremos. Tem quatro faixas e isso é que importa.

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