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TMG reequilibra contas

CulturGuarda está impedida de concorrer aos subsídios e financiamentos do Ministério, que é acusado de abandonar o Teatro Municipal

O director artístico do Teatro Municipal da Guarda (TMG) acusa o Ministério da Cultura de ter abandonado este equipamento, construído no âmbito da Rede Nacional de Salas de Espectáculos. «Devia ser o principal responsável pelo seu financiamento, além de participar na programação, porque o TMG tem uma dimensão regional e está a cumprir uma função que deve ser também do Estado», afirmou Américo Rodrigues, na segunda-feira, à margem da apresentação da programação para os próximos quatro meses.

Numa altura em que o complexo está a reequilibrar as suas contas, aquele responsável disse não compreender como o ministério apoiou o TMG no seu primeiro ano de actividade e deixou de o fazer no segundo. «Como se não bastasse, estamos impedidos de concorrer a subsídios e outros financiamentos da Cultura porque o espaço é gerido por uma empresa municipal», criticou, reclamando que a instituição possa candidatar-se aos apoios existentes. «Foi-nos prometido que isso seria corrigido no início deste ano, mas nada mudou», adiantou. Américo Rodrigues revelou ainda ainda que, numa reunião com o secretário de Estado, foi exigido à tutela «o mesmo que já faz com entidades como a Casa da Música, a Fundação de Serralves ou o Teatro Viriato, que têm verbas em PIDDAC para funcionamento. Mas as expectativas são quase nulas», confessou, afirmando que Mário Vieira de Carvalho «não tem informação sobre a actividade cultural no resto do país». E esta ajuda seria bem vinda, garantiu o director, que assumiu a gestão financeira da CulturGuarda em Outubro, após a saída de Francisco Dias.

Américo Rodrigues disse não ter razões de queixa das transferências da Câmara, mas outra coisa não seria de esperar, já que a empresa municipal vai receber este ano mais de 789 mil euros, conforme o contrato-programa celebrado com o município e aprovado pelo executivo em Janeiro último. A este montante somam-se mais 470 mil euros para cobertura de prejuízos. Que já serão menores: «Tudo o que podia dar mais dinheiro passou a dar», anunciou o responsável máximo, realçando que, agora, até o café-concerto dá lucro e «não é pouco». De resto, as contas do último semestre de 2006 foram ontem apresentadas em reunião de Câmara, pelo que na segunda-feira não foram divulgados quaisquer números. Mas uma coisa admitiu Américo Rodrigues: «O que fiz está ao alcance de todos nós, não há aqui nenhum golpe de génio», sublinhou, dizendo ter proposto 30 medidas urgentes para reduzir custos de electricidade e telefone, nomeadamente. Por outro lado, as parcerias estabelecidas com outras instituições culturais permitiram reduzir os “cachets” de alguns espectáculos, além de se ter registado neste período um crescimento da utilização do parque de estacionamento, dos alugueres e cedências de espaços, bem como da prestação de serviços, sobretudo do sector gráfico.

«Tem havido uma gestão mais realista e com mais rigor para diminuir custos e aumentar as receitas», regozijou-se, por sua vez, Vergílio Bento. O vereador com pelouro da Cultura e elemento do Conselho de Administração da CulturGuarda constatou ainda que a redução dos custos «não implicou uma menor qualidade da programação do TMG». Entretanto foi confirmado que a cidade vai voltar a ter cinema comercial nas próximas semanas. A reabertura do Cine-Estúdio Oppidana está marcada para Abril, em data a anunciar, ficando a CulturGuarda responsável pela sua gestão.

Programação cosmopolita

O TMG tem para os próximos meses uma programação «cosmopolita», com propostas vindas dos quatro cantos do planeta. Entre outras iniciativas, os destaques vão para o ciclo “Vozes de Outro Mundo” (Junho) e para o primeiro Festival Internacional de Guitarra (Julho), mas entretanto cabe à Orquestra Filarmonia das Beiras e ao Choral Aeminium abrir esta temporada com o “Requiem”, de Mozart, num concerto de Páscoa agendado para 5 de Abril. Já para assinalar o segundo aniversário do TMG e o 33º do 25 de Abril actuam, nesse dia, Luís Pastor e João Afonso. O cantautor espanhol apresenta o seu último disco, “En esta esquina del Tiempo”, que inclui 14 poemas de José Saramago.

A 5 de Maio acontece a estreia em Portugal de uma abordagem nova da cantata de Carl Orff “Carmina Burana”, apresentada na Guarda pelo Ballet Flamenco de Madrid. O mês de Junho começa com o teatro cómico da Companhia Clownic de Tricicle (dia 5), seguindo-se o ciclo “Vozes do Outro Mundo”, com a cantora inuit Tanya Tagac, o inglês Shlomo, os Huum-Hur-Tu (Tuva) e o belga Bernard Massuir. Em Julho o destaque vai para a primeira edição do Festival Internacional de Guitarra, com três concertos: “Guitarra entre Oriente e Ocidente”, por Dominique Phillot (Suíça); “Guitarra Clássica”, com Lúcio Nuñez (Argentina); e “Guitarra Flamenca”, de Paco Javier Jimeno (Espanha).

Mas pelo TMG passarão ainda “Bestas Bestiais”, encenada pelo actor guardense José Neves para o Teatro D. Maria II (6 de Junho), Pedro Abrunhosa (dia 30) e uma exposição da pintora Teresa Dias Coelho. Américo Rodrigues aproveitou a ocasião para anunciar que o Teatro Municipal «já não é só da Guarda, mas da Beira Interior» e revelou que o serviço educativo vai ser valorizado, numa óptica de promover actividades pedagógicas associadas aos principais espectáculos. «Estes espaços culturais não podem ser “clones” uns dos outros, têm que ter identidade própria», disse, esperando que estas acções possam contribuir para a criação de novos públicos.

Luis Martins

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