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TMG produz ópera de câmara

Projéc~ encena “Na Colónia Penal”, baseada no conto homónimo de Franz Kafka e com música de Philipp Glass

O Projéc~ sai de cena e aventura-se desta vez no sub-palco do grande auditório do TMG com uma ópera de câmara inédita em Portugal. “Na Colónia Penal”, com texto de Franz Kafka e música de Philipp Glass, é apresentada amanhã e sábado à noite num cenário tão inesperado quanto inquietante e lúgubre. O terceiro espectáculo da estrutura profissional de produção do Teatro Municipal da Guarda tem direcção musical de Domenico Ricci e encenação de Américo Rodrigues.

“Na Colónia Penal” aborda a fragilidade do sistema e a procura da justiça através da história de um oficial responsável pelo pelouro da Justiça que mantém uma estranha relação de admiração pelo instrumento que utiliza nas torturas dos condenados. Tanto assim que, após ter sido condenado à pena capital e no momento de se submeter ao suplício da tortura, escolhe para o seu corpo a brevíssima inscrição “Sê Justo!”. Participam no espectáculo o barítono José Corvelo e o tenor Sérgio Martins, com o Quarteto de Cordas de São Roque acompanhado pelo contrabaixista Ricardo Tapadinhas, e os actores António Godinho e António Saraiva. Domenico Ricci admite que, quando se ouve pela primeira vez esta ópera, o ouvinte é surpreendido pela sua «”aparente simplicidade”». Nada mais enganador, garante, pois trata-se de um trabalho «extremamente complexo que põe à prova as capacidades técnicas interpretativas dos executores». Na sua opinião, «a matriz minimalista do compositor americano é imediatamente reconhecível (logo a partir dos primeiros compassos). No entanto, desta vez, as habituais tercinas, os “patterns” repetidos, os familiares harpejos, o uso de contínuas flutuações rítmico-harmónicas e a utilização de dissonâncias e cromatismos são funcionais para criar uma atmosfera escura, gélida e aterradora», refere o director musical.

“Na Colónia Penal” teve estreia mundial em 2000, em Seattle (EUA), sendo representada dois anos depois em Berlim (Alemanha). Franz Kafka (1883-1924) pertenceu à chamada “Escola de Praga”, um movimento que defendia uma criação artística alicerçada numa grande atracção pelo realismo, uma inclinação para metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irónico. Mas as suas obras são sobretudo conhecidas por formalizar a opressão burocrática das instituições, a “justiça” e a fragilidade do homem comum perante os problemas quotidianos. Já o compositor norte-americano Philipp Glass tem um extenso e criativo currículo na área da música contemporânea, ópera, dança, teatro, ensemble de câmara, orquestras e cinema. Fundou o The Philip Glass Ensemble e, em 2003, editou o disco “Etudes for Piano Vol. I”. Dois anos depois escreveu “Symphony No. 7” com a National Symphony Orchestra e a ópera “Waiting for the Barbarians”, baseada num livro de John Coetzee.

Luis Martins

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