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Emigração só em «situação-limite»

«Hoje em dia é inevitável pensar em emigrar», admite uma guardense que não quis ser identificada e que ficou desempregada recentemente. «Já emigrei e só voltarei a fazê-lo em “situação-limite”, porque as rendas são muito caras», considera, salientando que, «se for um, vai a família toda».

Sem qualquer rendimento, uma vez que se despediu do local onde estava por «falta de condições laborais», vale a este agregado o ordenado do marido. Com dois filhos, o dinheiro está contado para que nada lhes falte: «A situação complicou-se, pelo que continuamos a evitar gastos supérfluos», refere. «Nunca quisemos créditos e foi a nossa sorte, ou não saberíamos como pagar», confessa a mulher, quase com 40 anos. A esperança, essa, é pouca: «Enviei alguns currículos, mas as expetativas são baixas… Tenho menos esperança do que noutra situação em que estive desempregada», revela.

«O subsídio social só chega para a prestação da casa»

Com o fim do subsídio de desemprego, a solução para outra guardense foi o subsídio social: «Atribuíram-me 300 dias de subsídio, já que sou solteira e não tenho mais rendimentos», indica a mulher, que pediu para não ser identificada. «O subsídio social só chega para pagar a prestação da casa», afirma.

«É dificílimo arranjar emprego e quando isto acabar vou tentar o RSI, mas quase ninguém tem direito», receia. «Quando não houver mais nada a fazer terei de emigrar, mas é complicado ir para o estrangeiro sozinha», acrescenta esta desempregada, adiantando que a solução poderá ser mudar-se para «uma grande cidade do país». Por agora, vai fazendo algumas formações para «ocupar a cabeça» e poupa o máximo que consegue: «Há muito que evito despesas não essenciais, como ir ao cabeleireiro», diz.

«Devíamos poder subsistir através do nosso trabalho»

Para um residente na Guarda, o valor do RSI não chega sequer para a renda de casa: «A renda são 200 euros e para os conseguir pagar tenho de fazer uns biscates», admite o homem, que também preferiu ficar no anonimato. De resto, são os vizinhos e amigos que o têm ajudado. «Infelizmente, não mantenho uma relação próxima com a minha família», declara.

O apoio alimentar da IPSS que o acompanha também é essencial: «É de louvar as instituições que nos estão a ajudar», considera, embora diga que é «triste depender dos outros. Devíamos poder subsistir sozinhos através do nosso trabalho». À procura de trabalho, considera ser «quase impossível» para quem, como ele, já passou a “barreira” dos 50 anos. Por isso, o futuro é uma incógnita: «Continuo otimista, apesar de tudo. Não penso muito nos problemas porque não resolve nada e ficamos ainda pior», diz. Quanto à emigração, «se me garantirem um emprego vou», afirma o guardense.

Jovens continuam a sair da Guarda

Susete Henriques é mais um exemplo de quem procura lançar-se no mercado laboral fora da cidade onde cresceu. Com 25 anos, mudou-se recentemente para os Açores, onde se encontra a realizar um estágio profissional. Licenciada em Geografia, escolheu o arquipélago em detrimento de uma opção «menos vantajosa» na região.

Para a jovem, sair do país não é alternativa «por enquanto», já que «a minha formação permite-me pensar que o nosso território ainda tem muito para oferecer». «Tenho colegas que não tiveram a mesma sorte que eu e continuam à procura de alternativas», recorda. Afastada da família, combate as saudades com as novas tecnologias, uma ferramenta essencial para os jovens longe de casa.

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