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Tesouros escondidos no Centro Histórico da Covilhã

Arqueólogos encontraram três sepulturas antropomórficas da época medieval

Três necrópoles medievais com ossadas foram encontradas na semana passada no Centro Histórico da Covilhã, entre a Igreja de Santa Maria e a Casa dos Magistrados, pelos arqueólogos que acompanham os trabalhos de requalificação urbana dos arruamentos intra-muralhas. Os achados deverão reportar-se ao «século XII ou XIV», aponta a “O Interior” o arqueólogo Nuno Gambôa, da empresa Arqueohoje, visto tratarem-se de «sepulturas antropomórficas», ou seja, em que a forma do corpo está esculpida na rocha tal como um sarcófago, numa alusão à divindade humana.

No seu entender tratam-se de verdadeiras relíquias, uma vez que «é muito raro encontrar ossadas dentro das sepulturas», salienta, pelo que a época a que se reportam poderá «recuar um pouco». Mas certezas só quando se estudar as ossadas encontradas, que permitirão ter «uma datação mais precisa».

Apesar de estar cingido apenas à zona onde se efectuarão as obras de saneamento e canalização, Nuno Gambôa não duvida que possam existir mais sepulturas, devido à existência da igreja. «Até ao século XVIII, é sempre sinónimo de cemitérios», aponta, tendo em conta que a existência da Igreja de Santa Maria, primariamente designada como Igreja de S. Maria do Castelo, reporta-se a uma época anterior ao século XVI.

Depois de estudadas e de se ter feito «todo o registo técnico e gráfico», as ossadas serão «preservadas», assegura Nuno Gambôa. «Vamos preservá-las com geotêxtil e areia para as voltarmos a tapar», adianta, lembrando que «não é possível ficarem visíveis ao público por ser uma via de circulação rodoviária», o que implicaria «custos elevados paras as colocarmos visíveis. Além disso, não saberíamos até que ponto iriam resistir às infiltrações e aos fungos», explica o arqueólogo. Assim, a opção será «registar, através de uma placa na calçada ou através de uma laje explicativas e com o desenho delas». «Se algum dia a rua deixar de ser aberta ao trânsito e se descobrir outros meios de escoamento de águas e de climatização, poderão então ser destapadas», pressupõe.

Contrariamente ao que se poderia achar, os achados não implicaram a paragem das obras, mas apenas a abertura de uma nova vala uns metros ao lado das sepulturas. «E aí não há achados históricos, porque já tinha sido completamente remexida há 70 anos para colocar infraestruturas de saneamento», salienta Nuno Gambôa.

Alguns metros acima, na Rua Alexandre Herculano, os arqueólogos descobriram ainda um poço datado do século XV ou XVI, «completamente entulhado com materiais dos séculos XVII e XVIII», sublinha o arqueólogo. O poço, que foi escavado até 15 metros de profundidade, será musealizado com todas as peças de cerâmica, faianças e peças domésticas descobertas pois encontra-se num beco. «Será colocada um grelha, um foco, ventilação e um vidro por cima», revela, para que os turistas e residentes possam apreciar os achados.

Liliana Correia

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