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“Terça-feira negra” destruiu 2.500 hectares de mato

Concelho de Almeida foi o mais afetado pelas chamas na semana passada, que também provocaram estragos no Parque Natural da Serra da Estrela

A Guarda já era o distrito com mais área ardida do país a 31 de agosto e os grandes incêndios que no passado dia 2 ocorreram em Almeida e Seia devem contribuir para manter essa indesejada liderança. No primeiro caso, as chamas consumiram cerca de dois mil hectares de mato e pinhal, enquanto no segundo arderam entre 500 a 600 hectares em pleno Parque Natural da Serra da Estrela.

No concelho de Almeida, o incêndio que deflagrou próximo de Senouras lavrou entre as 12h42 de terça-feira e as cinco da madrugada de quarta-feira, tendo chegado perto de algumas habitações na periferia de Almeida. O presidente da Câmara adiantou a O INTERIOR que o fogo consumiu uma área de «cerca de dois mil hectares» e chegou a «ameaçar» habitações e armazéns agrícolas nas localidades de Naves e Junça, tendo ainda rondado a própria sede de concelho. Contudo, Baptista Ribeiro frisa que «ardeu essencialmente mato e pinheiros» e uma pequena casa de arrumos, junto a Almeida. «Houve um elevado prejuízo ambiental, mas não há registo de grandes prejuízos de bens e as pessoas também não estiveram em perigo», declara. Ainda assim, houve uma habitação em Junça que «chegou a estar em perigo», valendo a pronta intervenção dos bombeiros que colocaram uma viatura e alguns homens para combater o fogo e evitar uma situação que «poderia ter sido trágica», refere.

O autarca explicou que os terrenos envolventes à habitação pertencem a outros proprietários e «não estavam devidamente limpos, como a lei obriga», daí que garanta que o município vá diligenciar no sentido da lei ser cumprida: «Vamos ter que tomar medidas para obrigar as pessoas a limparem os seus terrenos. Compreendo que é difícil fazê-lo nas zonas em que o acesso é mais complicado, mas é inadmissível que isso suceda nas envolventes às localidades e mais ainda junto às habitações», critica, defendendo ainda que «as autoridades terão que atuar com maior firmeza porque, senão, todos os anos acontecerão os mesmos casos. Temos que ser implacáveis nestas exigências», avisa Baptista Ribeiro. O presidente do município realçou que o incêndio teve uma proporção «enormíssima, porque há muita manta vegetal e muito mato», chegou a ter «várias frentes e, a certa altura, calculei que chegou a ter uma frente muito próxima dos 10 quilómetros de extensão». O incêndio florestal, que começou junto da localidade de Senouras, chegou a ser combatido por 288 bombeiros, apoiados por 79 viaturas.

Custos ambientais e turísticos em Seia

As chamas também fizeram estragos no concelho de Seia, numa paisagem que nos últimos anos tem sido bastante afetada pelo flagelo dos incêndios. Entre os fogos que deflagraram em Teixeira de Cima e em Alvoco da Serra, estima-se que tenham sido consumidos «entre 500 a 600 hectares» do PNSE, na maior parte de matos de regeneração natural e uma pequena área de pinheiro bravo com cerca de 11 anos. O presidente da Câmara de Seia reconhece que ardeu uma «área significativa» e que as chamas consumiram «duas áreas com distinto povoamento florestal». Carlos Filipe Camelo realça os «danos ambientais» e as «consequências nefastas» no «impacto visual» provocado na paisagem da Serra da Estrela e que são «negativas» para a economia local. «São experiências que vamos tendo ao longo dos anos. Já sabemos os custos ambientais e do ponto de vista turístico que vamos ter ao vermos ser afetada uma paisagem que é uma caraterística diferenciadora desta zona», afirma. O edil sustenta que os fogos atingiram «zonas do “coração” do próprio PNSE», o que representa um «“murro no estômago” quando queremos vender uma paisagem natural e única com uma cobertura de floresta ímpar na região e até no país». O incêndio de Alvoco da Serra, que chegou a ter três frentes ativas, começou pelas 12h47 de terça-feira e foi dado como dominado às três da manhã de quarta-feira, quando era combatido por 144 bombeiros apoiados por 42 viaturas. Já o fogo de Teixeira de Cima começou pouco depois e também só foi dominado na madrugada de quarta-feira, tendo sido combatido por 181 operacionais e 59 veículos.

Ricardo Cordeiro Os três fogos (na foto, Alvoco da Serra) só foram dados como dominados na madrugada de quarta-feira

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