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«Tenho de me sentir orgulhoso dos jogadores porque nos fizeram sonhar durante uma época»

Cara a Cara – Vítor Espinhaço

P – Foi uma época de sonho para o Grupo Desportivo e Recreativo das Lameirinhas?

R – Posso dizer que foi quase uma época de sonho. No primeiro treino da época definimos como objetivo, transmitido pela direção, a obtenção de uma classificação melhor do que há um ano, em que tínhamos conseguido o quarto lugar. Isso implicaria ficarmos nos quatro primeiros lugares e esse foi o nosso ponto de partida, mas à quinta jornada tínhamos cinco vitórias e tive de reformular obrigatoriamente devido à experiência do ano anterior. Enquanto treinador propus à equipa, e foi logo aceite pelo grupo de trabalho, que tínhamos de sonhar e pensar mais alto porque tínhamos competência para mais do que o quinto lugar. Propus a subida de divisão e até à 20ª jornada estivemos nos dois primeiros lugares, que dão acesso à promoção. Mas nas últimas seis jornadas acusámos a responsabilidade e não conseguimos atingir o segundo objetivo.

P – O que faltou para conseguirem ir mais longe?

R – Não posso nem quero desculpar-me com o cansaço ou arranjar algum tipo de desculpa. Eu, enquanto treinador à frente de um grupo de trabalho com muita qualidade e experiência, tenho de assumir as minhas responsabilidades. Não conseguimos porque, de alguma maneira, nalgum lugar, falhei essa subida. Com certeza não fui capaz de motivar os jogadores da melhor maneira, não consegui nalguns momentos gerir a tal ansiedade e, se calhar, falhei na transmissão de informações importantes para podermos ganhar jogos importantes na luta pela subida à Iª Divisão.

P – O terceiro lugar sabe-lhe a pouco?

R – Claro que sim. Sabe-me a pouco porque estivemos muito tempo na frente. O campeonato acabou no sábado e conseguimos mais uma vitória que garantiu o terceiro lugar. Agarrei-me desde o início da época e senti que os jogadores fizeram tudo por tudo para subir. Queria ficar na história, por assim dizer, do clube e da cidade mas, apesar de tudo, sinto-me muito honrado pelo terceiro lugar. Porque, mesmo sendo o “primeiro dos últimos”, prefiro ser o primeiro do que o “segundo dos últimos”.

P – O público foi o sexto jogador?

R – Sim, sem dúvida. O público foi preponderante e sentimos o seu apoio. Quero deixar uma palavra de apreço aos simpatizantes e apoiantes do futsal, em particular do Lameirinhas, que nos incentivaram e ajudaram em determinados momentos a ultrapassar dificuldades que fomos sentindo durante os jogos. É com este público que a equipa conta no futuro.

P – Que fatores contribuem para a equipa se aguentar tantos anos no campeonato nacional?

R – Sobretudo aquilo que o Lameirinhas é enquanto instituição, os treinadores que passaram pelo futsal e – não posso deixar de referir – o bom balneário. O grupo de trabalho que faz a equipa, todos sem exceção – e gostaria de salientar isto – fizeram falta, fazem falta; é um grupo muito homogéneo e com muita qualidade, competitivo e experiente. Juntamente com os jogadores mais novos que também têm qualidade, conseguimos fazer com que se pensasse até às últimas jornadas que podíamos subir à Iª Divisão.

P – O que falta ao Lameirinhas para poder subir à Iª Divisão? É uma questão de plantel, de orçamento ou de apoios…

R – Tudo faz um bocado de falta, como é evidente. Sentimos sempre falta de apoios, como é óbvio, mas estamos na IIª Divisão há vários anos e tivemos 20 jornadas em lugar de promoção, o que significa cinco ou seis meses a sermos falados em todos os locais onde fomos jogar. Além da direção, que tentou desempenhar da melhor maneira o papel que lhe competia, se calhar não tivemos apoio da Câmara da Guarda, que tem de ser um dos alicerces do desporto no concelho. Lamento nunca ter havido ninguém do executivo municipal a dizer aos jogadores que estava connosco, no final de um jogo, depois de uma vitória… Levamos e dignificamos o nome da Guarda quando jogamos e até hoje sinto, enquanto treinador, uma certa mágoa porque foi uma época muito boa para o Lameirinhas e para a cidade, mas aqueles que também deveriam ter sentido essa importância não o demonstraram. Em relação ao Distrital de futsal, quero aqui destacar que considero ter sido extremamente competitivo e felicito o Sabugal e o seu treinador Telmo Vaz, a quem desejo que façam um campeonato tranquilo e repleto de êxito na IIIª Divisão.

P – Vai ser treinador do Lameirinhas na próxima época?

R – De momento não sei, essa pergunta tem que ser feita à direção.

P – Tem vontade de continuar com este projeto?

R – Estaria a mentir se dissesse que não penso treinar uma equipa no próximo ano. Gosto muito do futsal e, como tal, gostava de continuar a desempenhar funções, se possível no Lameirinhas. Sou treinador há três anos, no primeiro foi complicado, cresci muito e estivemos até à última jornada a lutar pela manutenção. Queria agradecer ao Bruno Torres, já o fiz pessoalmente quando ele teve de sair para Timor por motivos profissionais, mas quero fazê-lo publicamente. Ele ajudou-me nestes três anos e, no primeiro, tive muitas dificuldades que ele me ajudou a ultrapassar, pelo que lhe desejo o maior sucesso. Já o segundo foi um ano fácil, em que o objetivo era escapar àqueles jogos finais de luta pela manutenção, e no qual acabámos em quinto. Vê-se o crescimento da equipa, o exteriorizar da qualidade dos jogadores, e foi um ano muito gratificante e exigente do ponto de vista competitivo. Em relação a esta época, tenho de me sentir orgulhoso de todos os jogadores porque nos fizeram sonhar durante uma época desportiva.

P – Quais as suas metas enquanto treinador?

R – Tenho um sonho que é treinar na Iª Divisão e este ano não o concretizei por muito pouco. Tenho de agradecer a alguns clubes do distrito como é evidente, mas sobretudo a estes três anos no Lameirinhas. Aprendi muito com os jogadores, são eles os meus grandes críticos e aqueles que tenho de ouvir. Sei perfeitamente que tenho de melhorar e que não estou na modalidade para lhes agradar, mas era com eles que gostava de concretizar o meu sonho.

Vítor Espinhaço

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