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«Temos vindo a fazer, a pouco e pouco, a segunda fase do projeto de modernização do Hospital da Guarda»

Carlos Rodrigues, presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde da Guarda

P – Em dia de aniversário da cidade, qual a prenda que gostaria que a ULS recebesse?

R- Já conheço a Guarda há muitos anos. Considero-a uma cidade interessante, com características únicas, como o facto de ser alta e o clima específico. Esta é uma região que estava, de certo modo, afastada do grande desenvolvimento, comparativamente a outras, nomeadamente do litoral. Tem dado saltos bastante grandes, embora falte aqui alguma situação de mais emprego, de mais indústria, de mais atividade económica que possa atrair as pessoas. A demografia é importante, mas para isso é necessário que as pessoas se fixem cá, o que só é possível com atividade económica, que por sua vez é fundamental para desenvolvimento.

P – Qual a relevância do setor da saúde na Guarda? E da ULS?

R- A saúde, em qualquer lado, é sempre uma atividade importante, quer do ponto vista pessoal, quer do próprio desenvolvimento da região. No caso da ULS da Guarda é extremamente importante porque cobre um distrito inteiro. São 13 centros de saúde, mais de 70 extensões, que levam os profissionais de saúde até ao cidadão mais próximo, e portanto é uma rede que mantém a promoção da saúde numa região inteira. Temos dois hospitais, 13 centros de saúde e cerca de 2 mil profissionais.

P- Acha que poderia haver um “cluster” de Saúde na Guarda, tendo em conta que a cidade está ligada ao bom ar?

R- Penso que sim. Claro que cada um terá a sua ideia de desenvolvimento, mas no que diz respeito à saúde poderia haver aqui uma relação muito próxima entre crescimento e desenvolvimento. Se desenvolvêssemos aqui determinadas valências com maior eficácia e maior quantidade e qualidade em termos da tradição do sanatório, ou seja, no tratamento de doenças respiratórias, era possível criar condições para atrair outros cidadãos, até da própria Europa. Falo de pessoas em idade da reforma, com disponibilidade de tempo e financeira. Seria, por exemplo, uma possibilidade de desenvolver uma área específica que atraísse grande quantidade de pessoas do norte da Europa e que têm o desejo e conhecer outras regiões. Temos uma bela gastronomia e acolhimento, uma boa rede de hotéis e temos locais com bastante interesse histórico, assim seria até uma forma de complementar saúde, gastronomia e turismo rural. Não é muito comum a internacionalização da saúde, mas é preciso ganhar alguma capacidade. Já temos algumas nesta área das doenças respiratórias e não abandonamos a ideia de criar condições para um Centro de Investigação para doenças respiratórias crónicas, através de parcerias com a UBI e o IPG. Era algo que recuperava o sentido histórico do sanatório e também desta valência. Houve dificuldades financeiras e portanto não houve ainda possibilidades de fazer esse investimento, mas não abandonámos a ideia. Penso que antes de me ir embora isso ficará pelo menos candidatado.

P- Num altura em que é difícil atrair médicos, o que pode ser feito para contrariar esta tendência?

R- Penso que daqui a seis, sete anos as coisas estão absolutamente ultrapassadas. Em termos de médicos familiares temos mais de 90 por cento do distrito coberto. Faltam-nos apenas duas áreas, Seia e Figueira de Castelo Rodrigo, mas já está acertado que em breve, no próximo concurso, vamos ter tudo coberto. Quanto às especialidades hospitalares, algumas delas, como Ortopedia ou Anestesia, as lacunas são também a nível nacional, mas pensamos que daqui a uns há condições para resolver. A dificuldade de atração de profissionais para a Guarda tem a ver com a atração paralela do litoral, que tem de ser contrariada com uma abertura de vagas específicas para o interior. Também há a questão das condições internas, que embora algumas já tenham sido criadas, não são as mais atrativas. Precisamos de uma atração de desenvolvimento, pois um jovem que sai da sua especialidade tem que dar corpo e conhecimento ao desenvolvimento da sua especialidade. Embora já tenhamos em muitas áreas, penso que estamos a caminho de ter cada vez mais. Não basta termos talentos, precisamos de estrutura física e organizacional e cultura para beneficiar e premiar o mérito. Um jovem médico que acaba a especialidade procura condições de um hospital como o nosso, com boa atração física. É possível criar condições para esse jovem médico pensar que terá na Guarda melhor desenvolvimento da sua carreira do que num hospital como o de Coimbra, que se perde entre tanta gente. Aqui tem uma notoriedade que não terá num hospital grande.

P – Porque não se concretizou a segunda fase do projeto de modernização aprovado no Governo de José Sócrates?

R- Eu ainda cá não estava, mas penso que por falta de apoios financeiros. De qualquer modo, isso está em vias de ser ultrapassado uma vez que a segunda fase era o Pavilhão 5, cuja requalificação já vai avançar. Vão ser criadas as condições num plano funcional e dividido internamente para ser melhorado. Em simultâneo a segunda fase iria também intervir no antigo sanatório. Prevíamos a requalificação das duas áreas e enquanto uma zona estava em obra passávamos para a outra. Não havendo meios financeiros, temos vindo a fazê-lo a pouco e pouco. Os principais serviços do sanatório antigo estão hoje melhorados, com um número de camas e melhores condições nas casas de banho. Já o pavilhão 5, onde chovia desde 1999, no ano passado adjudicamos a obra da cobertura e candidatamos também aos fundos comunitários os cerca de 2,5 milhões de euros para melhorar o plano daquela área, nomeadamente a maternidade e o Departamento de saúde da mulher e da criança.

P – Há quem comente que a ULS está a contratar mais pessoal administrativo em vez de técnicos de saúde. É verdade? Porquê?

R- Um dos objetivo para 2017 é entrar mais no domínio da qualidade em termos técnicos e recursos humanos, organização, onde já começámos a trabalhar. No orçamento do próximo ano quase que não temos gastos em prestação de serviços, o que significa que é nossa intenção colocar no quadro as quase 200 pessoas que temos nestas condições com a certeza que são postos de trabalho que se mantêm, por isso estão a ser abertos estes concursos. Não há um acréscimo da despesa, há é uma transferência que nos vai permitir economizar cerca de um milhão de euros. Aliás, os rácios dizem que a ULS tem uma falta de capacidade técnica de gestão. Um vazio muito grande entre o Conselho de Administração e as operações no terreno, pois faltam pessoas que assumam funções de gestão a nível intermédio. Definimos como objetivo a qualidade do pessoal e os sistemas de informação, um setor que está muito pobre em várias áreas. O ano passado candidatámo-nos ao “Portugal 2020” e obtivemos um apoio de 1,2 milhões de euros para sistemas de informação e é o que estamos a fazer agora.

P – Espera levar o seu mandato até ao fim?

R – Eu acredito que sim, até dezembro de 2017. Não estou aqui a fazer nenhum favor, estou aqui porque quero e porque gosto. Quero levar este desafio até ao fim porque gosto de realizar. Não tem nada a ver com a política e às vezes as pessoas têm uma ideia diferente. Sou apartidário, já trabalhei com vários governos de diferentes partidos e não sou adepto do partidismo nas direções de uma organização.

P- Relativamente à Unidade de Medicina Nuclear (que já se sabe que ficará em Viseu) o que poderá ter falhado?

R – Esta foi uma questão discutida pela CIM e aprovada por unanimidade de que iria para o Fundão. Obviamente que preferia que fosse para a Guarda e gostamos sempre de ter mais relevância, mas foi uma decisão política, não passou por mim. Seria do nosso interesse, mas esta não é a minha especialidade e não tenho responsabilidade política para isso.

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