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«Temos um leque de cursos bastante alargado de várias áreas»

Domingos Moreira, diretor da Escola Profissional de Trancoso

P – Quais as expetativas para mais um ano letivo?

R – No próximo ano letivo temos seis cursos em candidatura em áreas que vão desde a mecatrónica automóvel, passando por instalações elétricas, contabilidade, informática de gestão, animação sócio-cultural e comunicação/marketing e publicidade. A nossa perspetiva do próximo ano é a de tentar fazer a reposição destas turmas, o que tem sido um bocado difícil porque com a abertura do ensino profissional nas escolas públicas e com toda a oferta que existe no ensino público, o número de candidatos nas escolas privadas tem diminuído ao longo dos últimos anos. Por outro lado, também temos sentido alguma dificuldade no próprio desenvolvimento da divulgação nessas escolas. As escolas públicas têm-nos colocado bastantes dificuldades para nos podermos lá deslocar para divulgarmos a nossa oferta formativa. No próximo ano a ideia era tentar abrir esses cursos, desde que haja candidatos suficientes. Haverá também outra candidatura para o Centro Novas Oportunidades para dois anos que também deverá estar aí a rebentar.

P – Neste momento então ainda não está garantida a abertura dessas seis turmas?

R – Já há aprovação pedagógica e a financeira deverá estar por dias. Em termos de candidaturas aprovadas está tudo bem encaminhado mas em termos do número de candidatos temos notado bastante diminuição e temos tido alguns cortes das turmas que nos propomos abrir. Por exemplo no ano passado, propusemo-nos a abrir seis turmas, que permitiriam a reposição daquelas que saíram, e só abrimos três, manifestamente por falta de alunos. Para este ano, o ideal seria repor as seis turmas que terminaram, mas é provável que não consigamos atingir esse objetivo. Temos notado também alguma diminuição de turmas de nono ano nas escolas e por outro lado existe a questão da oferta nas escolas públicas. Neste momento, no distrito, não conheço nenhuma escola secundária que não tenha ensino profissional.

P – É negativa essa proliferação?

R – A concorrência é sempre útil e salutar, mas tem que ser positiva e o objetivo da concorrência do ensino profissional é nós darmos uma saída profissional aos alunos e evitar o abandono escolar dos mesmos. Acontece que ao longo dos últimos anos temos verificado que a oferta formativa que tem havido em muitas escolas do distrito peca por uma questão de base. Em vários concelhos há duas ou três turmas de nono ano e dessas apenas 50 por cento dos alunos poderá ter como destino o ensino profissional. Supondo que um desses concelhos concorre apenas a uma turma profissional de hotelaria, acontece que todos os alunos dessa escola que querem seguir o ensino profissional vão ser encaminhados para hotelaria. Ou seja, estamos a direcionar alunos com diversas vocações e sensibilidades para a área da hotelaria porque é a oferta que essa escola tem. Muitas vezes não notamos abertura por parte dessas escolas para permitir a divulgação de outras ofertas formativas para os seus alunos e isso não é prestar um bom serviço aos próprios jovens. Como cada curso tem que ter um número mínimo de alunos essas escolas direcionam todos os estudantes que querem ir para o ensino profissional para a mesma área, independentemente de estarem mais vocacionados para outras. É incorreto para toda a gente e até para os próprios alunos que nunca poderão vir a ser uns bons profissionais.

P – Como é que a EPT tenta contrariar essa tendência?

R – Na nossa escola temos um leque de cursos bastante alargado de várias áreas, desde a área dos serviços até às mais tecnológicas. Temos uma larga oferta formativa de várias áreas, onde os alunos poderão escolher a área de vocação para a qual têm maior sensibilidade. Neste momento como o ensino profissional está, principalmente nas nossas zonas e nos concelhos mais pequenos, os alunos estão todos a ser direcionados para a mesma área de formação, o que não tem lógica.

P – Como está a decorrer a fase de inscrições?

R – A fase de inscrições vai estar a decorrer até meados deste mês e depois inicia-se a de matrículas. Ainda estamos na fase de inscrições porque há alunos que ainda estão à espera de resultados do nono ano. A afluência não está a ser a esperada mas está ao nível da do ano passado em que abrimos três turmas. Penso que a Escola quando concorreu ao CNO já foi com a ideia de abrir outras valências porque se apercebeu que, com a oferta formativa do ensino público, no futuro seria um bocado mais complicado conseguirmos recrutar alunos.

P – De que zonas são provenientes esses alunos que já se inscreveram?

R – Grande parte dos nossos alunos é da região. As escolas profissionais foram criadas em 1989 já com o objetivo de terem um âmbito regional e não concelhio. Grande parte dos nossos alunos é dos diversos concelhos do distrito da Guarda. Temos alguns alunos do distrito de Bragança, dos concelhos de Torre de Moncorvo, Mogadouro, Alfândega da Fé, e outros alunos do distrito de Viseu, de concelhos como Penedono, Sernancelhe ou Moimenta da Beira. Estão na área de influência dos nossos transportes próprios e temos outros alunos alojados.

P – Quantos alunos a EPT teve no último ano?

R – No ano passado tivemos cerca de 250 alunos e este ano a ideia seria a reposição dos alunos que terminam os seus cursos, mas não sei se o conseguiremos.

P – Acha que a conjuntura de crise pode afetar o ensino profissional ou, pelo contrário, beneficiá-lo?

R – As crises nunca beneficiam nenhum sector da atividade. De 2009/2010 para 2010/2011 já tivemos um corte financeiro, uma parte fruto da diminuição de alunos, outra em virtude de ter havido uma mudança no financiamento do ensino profissional. Nós já tínhamos programado o ano tendo em conta o sistema de financiamento anterior e entretanto chegámos a dezembro e tivemos um novo sistema, o que implicou uma redução do orçamento. Do ano passado para este tivemos um corte de cerca de 30 por cento no nosso orçamento. Mantivemos quase todos os recursos humanos que tínhamos e por isso é lógico que financeiramente estamos a atravessar um período complicado que estamos a tentar colmatar e vamos ter que tomar algumas atitudes.

P – Nessas atitudes poderá estar contemplada a dispensa de alguns docentes?

R – Fruto da diminuição do número de alunos cada vez temos menos horas para distribuir pelos docentes. Possivelmente teremos que dispensar alguns professores. Entre pessoal docente e não docente temos atualmente 37 funcionários no quadro, pessoas que já estão há bastantes anos na Escola.

P – Como perspetiva o futuro da EPT nos próximos tempos?

R – Penso que o caminho que o ensino profissional tem tido nos últimos anos faz com que tenha que se reequacionar e redefinir uma nova estratégia para este tipo de ensino. A EPT já foi a maior escola do distrito e uma das maiores do país, mas fruto da redução de alunos penso que isso não vai voltar a acontecer. Por outro lado também a alteração do próprio regulamento criou-nos bastantes dificuldades para os alojamentos dos alunos que vinham de fora do nosso sistema de transportes. Agora, penso que a EPT será uma escola mais pequena no futuro, que vai ter de ter uma oferta formativa o mais diversificada possível virada para o mercado de trabalho e para o prosseguimento dos estudos também. A Escola vai também ter que apostar noutro tipo de valências. Já temos o CNO a funcionar, também tem sido recorrente termos um curso EFA -Educação e Formação de Adultos a funcionar. No futuro tem que se equacionar outro tipo de valência que seja possível implementar na escola.

«Temos um leque de cursos bastante alargado
        de várias áreas»

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