Arquivo

«Temos sido obrigados a utilizar receitas próprias para investir na área educativa»

Cara a Cara

P – A Escola comemora 40 anos e teve recentemente duas grandes prendas: a transformação em Escola Superior de Saúde e o curso de Farmácia. O que representam estas mudanças?

R – Significam que estamos no bom caminho porque eram medidas prioritárias, a par da aprovação, e abertura em Maio último, da pós-licenciatura em enfermagem médico-cirúrgica. Considero que este é o ano da Escola exactamente por causa dessas três medidas. A partir de agora abrem-se outras possibilidades e teremos que reavaliar o projecto educativo e científico para propor, no próximo ano, outros dois cursos, nomeadamente na área das tecnologias da saúde. Continuamos com a Radiologia, que vamos reavaliar, mais Anatomia Patológica, Saúde Ambiental e Terapia da Fala, mas caberá ao Conselho Científico examinar muito bem esta questão e pronunciar-se sobre que novos cursos e se vamos manter os que temos.

P – Ponderam então encerrar alguns cursos para poder avançar com outros?

R – Temos que avaliar muito bem as nossas condições e recursos. É que, para além dos dois novos cursos, que ainda não posso revelar, poderemos também propor uma nova área de especialização na área da saúde mental ou da reabilitação, por exemplo. É uma área que esteve parada e que é importante relançar.

P – Uma nova designação, mas com as mesmas instalações praticamente há 40 anos?

R – É isso. Há dois edifícios do tempo do sanatório, um mais recente, com cerca de 22 anos, e o do novo auditório, que foi construído há cinco/seis anos.

P – Entretanto, o edifício mais recente sofreu alguns percalços. A construtora faliu e foi necessário lançar novo concurso público para concluir as obras. Até que ponto isso pode ter influência no funcionamento da própria escola?

R – Contávamos que este novo espaço estivesse pronto há mais de um ano para colmatar algumas deficiências em termos de instalações. Mas não sentimos propriamente dificuldades na gestão de salas, porque temos conseguido gerir os horários graças a uma metodologia própria. Esperamos que possa estar concluído em meados de Setembro, uma vez que as obras já recomeçaram.

P – Mas concerteza que a Escola vai precisar de mais espaço se forem aprovados novos cursos?

R – Claro. Ou então teremos que gerir muito bem os horários, mas, numa visão de parceria com as escolas do IPG, poderemos também partilhar salas.

P – Como está a ideia da Escola se mudar para o campus do Politécnico?

R – A ideia de um edifício de raiz foi lançada pelo presidente do IPG, é consensual e deve ser promovida. Espero que isso aconteça, pois poderemos ter uma escola planeada e devidamente equipada de acordo com as nossas actividades e necessidades específicas, nomeadamente laboratórios. Contudo, é um projecto que não se concretiza de um momento para o outro, mas já era bom se acontecesse a médio prazo.

P – Outro dos problemas são os recursos financeiros. Há dois anos foi complicado, no ano passado voltou a sentir algumas dificuldades, qual é a expectativa para o próximo ano lectivo? É continuar a apertar o cinto?

R – No ano passado já tivemos uma situação equilibrada. Este ano houve um corte de quatro por cento para o IPG, o que também se repercutiu na Escola, pois, em vez dos 1,1 milhões de euros, só recebemos 1,07 milhões. Mas com acréscimo de alunos, a entrada de assistentes e os pagamentos a professores. Para o próximo espero que a situação melhore um pouco, pois penso que deve haver alguma correcção do financiamento para melhor por causa da conversão em Escola Superior de Saúde e do novo curso. A minha expectativa é que o Governo seja sensível às nossas dificuldades, já que não basta converter as escolas e aprovar cursos. Temos sido obrigados a utilizar as nossas receitas próprias para investir na área educativa. Neste momento estamos a suportar uma fatia das despesas da Escola que deviam ser asseguradas pelo Orçamento de Estado. Tivemos que ir buscar mais de metade dessas receitas para pagar aos nossos funcionários.

P – Em termos de propina, já se pode saber qual o montante que vai ser cobrado no próximo ano lectivo?

R – Não acho razoável que sejam os alunos e as famílias a suportar cada vez mais a sua formação, porque os portugueses já pagam demasiados impostos. Poderá haver um consenso entre todas as escolas do IPG para um determinado valor, mas, em princípio, nós continuaremos a defender a propina mínima. Pelo menos enquanto não melhorarmos as actuais condições de equipamento e materiais.

P – Para ajudar, há escassez de recursos financeiros, nalguns casos ainda tem que ser a Escola a comparticipar os estágios dos alunos. O contrário não seria melhor?

R – Não estamos propriamente a pagar estágios a nível da licenciatura, embora tenha havido alguma pressão da parte de determinados hospitais para as escolas públicas de enfermagem pagarem uma verba. Ainda não estamos a fazer isso por enquanto. A nível do 4º ano, segundo semestre, temos alunos pelo país, sobretudo no Centro Norte, e fica-nos um pouco mais dispendioso devido às deslocações dos professores, telefonemas e ofícios. Mas tem que ser porque privilegiamos essa inserção no mercado de trabalho, porque uma parte deles é logo contratado.

P – Como está a criação de cursos em Gouveia?

R – Estamos receptivos, já houve uma avaliação das condições de uma instituição local da área da fisioterapia e, de facto, eles têm condições muito boas. Contudo, a ser proposto um curso, ele terá que ser ministrado na escola e devidamente protocolado com um conjunto de estágios ou de formação teórica em Gouveia, ou noutro lado qualquer. A questão é que a escola não se deve limitar a passar diplomas. Não podemos fragmentar a formação nas tecnologias da saúde e temos que dar uma consciência profissional aos nossos alunos, portanto, não podemos retalhar coisas que devem ser unitárias.

Sobre o autor

Leave a Reply