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«Temos de nos valer dos nossos braços para reabilitar o edifício»

Cara a Cara – Entrevista

P – Quais são os projectos do Núcleo Regional de Castelo Branco da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral na Covilhã?

R – O principal projecto é criar um centro ocupacional, onde poderemos ter todas as pessoas que necessitem de ocupação profissional, porque cerca de 70 por cento dos utentes neste Núcleo tem mais de 15 anos e a sua vida escolar está acabada dadas as dificuldades que existem. Num futuro mais longínquo pretendemos criar também uma residência para que possam ficar. Seria importante terem uma casa que sintam como sua. No centro de reabilitação, que vai abrir no antigo hospital, vamos ter valências importantes, como as terapias da fala e a ocupacional, uma sala de informática, importantíssima para as crianças mais novas, bem como a secretaria e o apoio técnico. Queríamos ter logo tudo de uma vez, nomeadamente os médicos, enfermeiros e todos os técnicos de fisioterapia, mas não é possível. Uma das coisas pela qual nos vamos bater muito é a fisioterapia, já que vai melhorar a qualidade de vida das crianças se começarem desde pequenas a ter reabilitação.

P – Contudo, a concretização desses projectos não está a ser fácil, atendendo a que, no caso do centro de reabilitação, têm que ser os pais a fornecer a mão-de-obra para as obras?

R – Isso é verdade, porque, no interior, não é fácil angariar apoios monetários para fazer obras nesta casa cedida gentilmente pela Santa Casa da Misericórdia. Temos de nos valer dos nossos braços para reabilitar o edifício e fazer trabalhos que são necessários num futuro próximo. Mas continuamos a tentar que empresas, locais e nacionais, nos possam ajudar, talvez ao abrigo da lei do mecenato. Aceitamos tudo e 50 cêntimos já são muito importantes para nós. Agora se forem 50 mil euros será ainda muito melhor. Estávamos a pensar juntar meia dúzia de empresas de construção civil da zona da Covilhã e, entre todas, conseguirmos fazer as obras aqui na associação. Seria um passo muito grande ter o assunto da casa resolvido até ao fim do ano.

P – Entende que deveria haver mais apoios à associação por parte da sociedade no geral?

R – Quando fizemos o “Dia da Indiferença” foi porque, infelizmente, a diferença ainda resulta da indiferença da sociedade e das pessoas. Nos dias que correm está muito mais atenuada em relação ao passado, porque também os pais expõem e trazem mais os filhos para a rua do que antigamente. É assim mais fácil mostrar a realidade, o que é muito importante. Nesta zona existem 132 utentes com deficiências que vão a Coimbra semanalmente, o que causa um incómodo muito grande aos pais porque onera bastante. Coimbra está a prestar-nos um bom serviço, tem-nos apoiado em tudo e até foram eles que nos pediram para avançarmos com este projecto. Depois de sair daqui às 5 ou 6 da manhã e fazer 150 quilómetros, um menino que vá fazer uma fisioterapia chega a Coimbra cansado e, portanto, o rendimento não é o mesmo do que se a reabilitação fosse feita na região.

P – Quantos associados tem a associação?

R – Actualmente temos cerca de 320 associados que pagam uma quota insignificante de um euro por ano. Não é por aí que conseguimos sobreviver.

P – Qual a área de abrangência do Núcleo Regional de Castelo Branco. Também chega à Guarda?

R – A Guarda é um objectivo a médio/longo prazo porque, primeiro, queremos estruturar tudo na Covilhã, pois é onde há um maior número de utentes e existe a condição de que os pais só saem dos sítios onde está a ser prestada assistência aos filhos se quiserem. Ou seja, a maior parte dos pais está a ir a Coimbra e só virão para a nossa associação se assim o quiserem, não há obrigatoriedade. Quando fundámos este Núcleo foi-nos proposto ficarmos também com a Guarda e não dissemos que não, mas queremos subir um degrau de cada vez e não dar passos maiores que as nossas possibilidades. Até porque a Guarda pode ser assistida por Coimbra ou Viseu, não é uma prioridade, embora saibamos que existe muita gente interessada na Guarda.

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