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Televigilância avança este Verão no PNSE

Parque Natural da Serra da Estrela foi o segundo mais afectado pelos incêndios do ano passado, tendo ardido perto de 10 mil hectares

O Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) vai ter pronto a funcionar neste Verão um posto de detecção de fogos por vídeo e infra-vermelhos. O anúncio foi feito na semana passada pelo ministro do Ambiente na Comissão Parlamentar Eventual dos Incêndios Florestais, na Assembleia da República, e vem corresponder, um ano depois, aos insistentes apelos de Fernando Matos, director do PNSE, que no último Verão desesperou por instalar este meio de detecção primária de fogos florestais na zona do parque. Uma medida que chega tarde, já que, segundo os dados apresentados, arderam cerca de 110 mil hectares de área classificada, sendo que o PNSE é o segundo mais afectado logo a seguir ao Parque Natural da Serra de São Mamede.

Amílcar Theias apresentou quarta-feira um balanço da última época de incêndios, que se revelou particularmente devastadora para as zonas com estatuto especial de protecção ambiental. Um quarto da área ardida nos incêndios do Verão passado é zona protegida, sendo que o Parque Natural da Serra de São Mamede e o Parque Natural da Serra da Estrela foram os mais afectados pelas chamas. Para contrariar esta tendência, o ministro

apresentou os meios de prevenção e combate aos incêndios que o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) – cujo orçamento pode ascender a 29 milhões de euros e «a maior execução de sempre da história» daquele organismo, salientou o secretário de Estado do Ambiente – vai ter disponíveis nas áreas protegidas este ano, nomeadamente 27 brigadas de sapadores florestais, envolvendo 135 pessoas, e 54 brigadas de vigilância, com 160 elementos. Como medidas a concretizar a «curto prazo», o governante anunciou a actualização das cartas de prioridade de intervenção em fogos florestais, documentos que devem definir as zonas com maior risco de incêndio e as que são prioritárias ao nível da conservação da natureza. A limpeza de áreas de matos e floresta, a manutenção de caminhos e o aumento do número de pontos de água disponíveis para combater fogos florestais foram outras das promessas que Amílcar Theias deixou aos deputados.

Para reforçar as acções de vigilância, para prevenir os incêndios ou a sua rápida deflagração, o ministro adiantou ainda que estarão disponíveis 18 postos de vigia e que vai entrar em funcionamento um posto de detecção de fogos por vídeo e infra-vermelhos, a instalar na Serra da Estrela. Propostas que o Partido Ecologista “Os Verdes” lamentou não terem sido implementadas antes dos incêndios do Verão. Em 2003 ocorreram em Portugal 4.671 fogos florestais que consumiram 424 mil hectares, uma área equivalente ao distrito de Vila Real, tornando-se no ano em que mais floresta foi destruída pelos incêndios nas últimas duas décadas. Os incêndios com dimensões superiores a 100 hectares foram responsáveis por 94 por cento da área ardida, um valor que habitualmente se situava nos 60 por cento. A Comissão Parlamentar de Incêndios Florestais foi criada na sequência dos fogos do Verão, considerados uma calamidade, para tentar apurar as suas causas e o que falhou no combate e prevenção. No caso do Parque Natural da Serra da Estrela, o maior do país, arderam no ano passado perto de 10 mil hectares, mais de quatro vezes a área total consumida em 2002, afectando, com alguma intensidade, zonas florestais com importância em termos de biodiversidade e reserva biogenética.

A televigilância foi um dos “cavalos de batalha” de Fernando Matos, director do PNSE, no ano transacto, mas a falta de legislação específica para o uso deste equipamento impediu a sua utilização no coração da área protegida. Tida como «muito útil para detectar um incêndio logo no início e tornar mais fácil o seu combate», esta solução é um caso «mais que evidente» de que a tecnologia será útil para a detecção de incêndios. «Não é nosso objectivo entrar na privacidade de ninguém, mas proteger a riqueza natural da Serra da Estrela», sublinhou na altura a “O Interior”. Não foi possível obter um comentário do director do parque, por o mesmo, à semelhança dos restantes responsáveis pelas áreas protegidas em Portugal, estar obrigado a autorização prévia do presidente do ICN.

Luis Martins

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