«Todo este projeto é uma grande satisfação», afirma Augusto Lourenço, médico e diretor do serviço de Cirurgia da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, que está em “voga” no mundo científico graças à técnica “Onstep”, aplicada no tratamento das hérnias inguinais.
O sucesso desta inovação é explicado pelo «baixo custo, produtibilidade e ausência posterior de dor crónica», adianta o cirurgião, que apresenta o tempo de operação como outra das vantagens, uma vez que é «cerca de metade das técnicas mais rápidas». A operação consiste na colocação de uma prótese na zona dos defeitos existentes – ou que podem vir a existir – e está estruturada em 12 passos, a fim de garantir uma boa reprodutibilidade: «Este projeto só tem valor se for reproduzível. É uma técnica de simples execução, não é necessária grande experiência ou especialização», refere Augusto Lourenço. «Já havia propostas nesse sentido, mas as operações ficavam muito caras porque eram utilizados mais materiais e precisava-se mais tempo. Depois também envolvia mais dor e nem todos estavam aptos para operar», sustenta. Para contornar estas dificuldades, o clínico começou por modificar a colocação da prótese, colocando-a na parte posterior do defeito, «para o tapar por dentro, de uma maneira simples e sem material de suporte», explica o cirurgião.
A prótese que utiliza é «mais adaptada» e tem um preço «em linha com o que se pratica no mercado», sendo que a respetiva patente já foi adquirida por uma multinacional norte-americana: «Tem um anel mais duro fundido (anel de memória) que permite não enrugar, desenvolve forças e provoca a expansão da prótese, entre outros efeitos, tendo como resultado menos dores pós-operatórias e menos dores crónicas», acrescenta. O médico da ULS da Guarda “arrancou” sozinho nesta ideia mas atualmente trabalha com Rui Soares da Costa, do Hospital de São João (Porto), que se «entusiasmou» com a inovação do guardense. Esta colaboração permitiu que o projeto «se desenvolvesse mais rápido», sendo que a dupla já operou mais de mil pacientes com «bons resultados», revela Augusto Lourenço.
O reconhecimento internacional tem levado os dois médicos a congressos de referência na especialidade, mas também tem suscitado a curiosidade de médicos estrangeiros, interessados em aprender e aplicar esta técnica: «Há figuras de renome internacional que já conhecem o processo e outras que se deslocam ao Porto para participarem nas nossas formações», indica. Para o médico, o mais importante é mesmo a resposta dos clínicos: «Enquanto cirurgiões, o nosso impacto e objetivo é sermos aceites pela comunidade científica», sustenta. O diretor da Cirurgia guardense não esquece «o interesse e disponibilidade» da direção da ULS no arranque do projeto, lembrando que se trata «de uma iniciativa privada, que tem uma parceria importante com a indústria, pois envolve muito dinheiro». No final deste mês, Augusto Lourenço e Rui Soares da Costa estarão em Berlim num congresso dedicado a hérnias, onde vão operar em “direto” para cerca de 400 cirurgiões de diferentes países.
Sara Quelhas
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