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Tábua de Marés

Trata-se do último espectáculo do Festival Y#6 no TMG, numa simbiose entre a performance e a dança. E que antes integrou o último Alkantara Festival, altura em que a ele assisti, em finais de Maio, no Teatro da Politécnica. Nesta produção há uma simbiose perfeita entre a dança e a performance. Mas seria mais certeiro chamar-lhe uma performance coreografada. Onde a autora procura, sobretudo, experimentar os vários tempos da acção, do relacionamento descontínuo entre o significante e o significado, ou seja, “a diferença entre definição-comentário-opinião e as ligações entre tempo da acção e tempo da imagem”, nas palavras de Rita Natálio, a propósito daquela apresentação. Mas que coisa é essa de que trata o espectáculo? Caixas de cartão. Que os actores vão dispondo segundo uma determinada sequência, enunciando sempre, através de um microfone, o objecto da acção empreendida. Por detrás desse microfone existe um muro de caixas cartão onde são projectadas as frases. Trata-se uma obra claramente conceptual, onde o espectador experimenta um continuado desconforto, temperado com alguma estranheza. Como se as caixas de cartão resistissem sempre aos signos e adquirissem uma espessura e uma impenetrabilidade impossível de atravessar. E como se as várias tentativas de nomear os objectos através de níveis discursivos diferentes, resultassem igualmente infrutíferas e risíveis. O que poderá significar que essas mesmas caixas com que se testam formas novas, parecem desafiar o próprio espectador. Buscando nele um ventríloquo que as nomeie, finalmente.

Por: António Godinho

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