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Suspeição mirandesa não retirou brilho à Feira do Jarmelo

Criadores de jarmelistas dizem não querer «“guerra”» com ninguém, mas apenas suspender o processo de extinção da vaca

Longe da suspeição levantada pelos criadores mirandeses, o Jarmelo promoveu, no domingo, o primeiro concurso bovino da jarmelista tornado possível com a certificação da raça em 2007. A feira voltou a ser um acontecimento que atraiu dezenas de produtores e milhares de visitantes para ver as verdadeiras “estrelas” do certame, as vacas de franja.

Este ano, a Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa contestou o reconhecimento da jarmelista como raça autóctone, tendo interposto duas providências cautelares para suspender o processo e uma queixa-crime à Direcção-Geral de Veterinária (DGV) por falsificação de identidade. Os dois primeiros foram indeferidos, a segunda corre termos no tribunal. Aquele organismo alega que as vacas do Jarmelo são «uma derivação da mirandesa dadas as semelhanças», tendo sido usadas três exemplares para a sua certificação. Por cá, a contestação é desvalorizada: «É um ataque movido por interesses que nos ultrapassam», garante Rui Paixão, elemento da organização do evento, partilhada este ano entre a Câmara da Guarda, as duas freguesias da zona e a AcriGuarda – Associação de Criadores de Ruminantes. «Nós não queremos “guerra” com ninguém, mas apenas que o processo de extinção da vaca jarmelista seja fechado, porque a feira voltou este ano a provar que a raça não está em vias de desaparecer”, acrescenta.

De resto, «o trabalho feito pela DGV tem toda a validade científica», sublinha. Nesta 26ª edição, 23 criadores marcaram presença com cerca de duas dezenas de animais, além de cabras e ovelhas, o que para aquele responsável demonstra que alguma coisa está a mudar. «Há quatro anos, no início do processo de certificação da raça, havia 30 e poucos exemplares. Agora, estão reconhecidas como jarmelistas mais de 80, enquanto outras 20 estão em estudo», adianta Rui Paixão, que também destaca o aumento do número de produtores. «Só no concelho da Guarda há 14, mas já temos em Almeida, Pinhel e Trancoso», regozija-se. Com um total de 5.000 euros em prémios, a organização apoiou a participação e distribuiu o restante pelos vencedores do concurso bovino. Actualmente, a jarmelista já tem Livro de Registos Zootécnico, estando a decorrer o apuramento das suas características para ser elaborado o Livro Genealógico.

Para Agostinho da Silva, presidente da Junta de São Pedro do Jarmelo e grande dinamizador da “causa jarmelista”, o objectivo dos produtores mirandeses será apenas «empatar» o reconhecimento desta raça autóctone e pressionar as entidades competentes. «É um processo mal intencionado ao qual espero que a Câmara da Guarda [a jarmelista foi declarada de interesse municipal] e a Direcção Regional de Agricultura respondam inequivocamente com a defesa do potencial regional destes bovinos», considera. A meta é chegar a um efectivo de 400 jarmelistas, «o suficiente para se avançar para a certificação da carne», admite, pelo que recomenda que se avance rapidamente para a fertilização in vitro e o recurso «a barrigas de “aluguer”». Para Aurélio Fernandes, agricultor da Vendada (Pinhel), as jarmelistas são incomparáveis: «É uma vaca asseada e boa para o trabalho, além de ter uma carne saborosa. Sempre lavrei com elas e agora mantenho-as por brio», refere.

Luis Martins Vacas de franja foram as “estrelas” do certame no último domingo

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