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Sugerida rede regional de defesa da floresta contra incêndios

URZE apresentou em Seia projecto-piloto de gestão florestal na zona do Malhão

A Unidade de Gestão Florestal do Malhão, cerca de 1.089 hectares no concelho de Seia, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, vai ser alvo de um projecto-piloto de ordenamento e gestão. A iniciativa, que junta a URZE – Associação Florestal da Encosta da Serra da Estrela e a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI), foi apresentada no último sábado durante as IIIªs Jornadas Técnicas daquela associação, que decorreram naquela cidade.

Através de acções de prevenção e protecção contra incêndios, os promotores pretendem valorizar o potencial florestal do município e incentivar o desenvolvimento agro-florestal. «A floresta está em declínio devido à reduzida dimensão das propriedades, ao desinteresse dos proprietários na gestão, ao flagelo dos incêndios, aos declives muito acentuados nesta zona e aos solos por vezes pouco produtivos», sublinhou Rui Xavier, da URZE e responsável pelo projecto. O Malhão, que envolve seis freguesias do concelho, é uma das 15 Unidades de Gestão Florestal previstas e será doravante uma espécie de laboratório. Nos próximos tempos, os técnicos vão aplicar algumas soluções, como a construção de caminhos, de um ponto de água e a criação de faixas de descontinuidade. Mas também elaborar o cadastro florestal da área, ordenar e diversificar o coberto vegetal, dominado pelo pinheiro-bravo. Acções que foram candidatadas à Sub-Acção 3.4 da Medida AGRIS. Esta Unidade de Gestão Florestal pode vir a ser um exemplo de estruturação, organização e implementação de trabalhos no espaço agro-florestal, numa altura em que a área ardida na Beira Interior nos últimos 25 anos já ultrapassou metade da área da região. No distrito da Guarda, isso significa que cerca de 508 mil hectares foram consumidos pelas chamas para uma área geográfica de 553 mil hectares.

Estes dados verdadeiramente assustadores foram revelados durante as jornadas subordinadas ao tema “Floresta, Ordenamento e Fogo: três factores comunicantes”. Responsáveis da DRABI, investigadores universitários, autarcas, produtores florestais, dirigentes do Parque Natural da Serra da Estrela, da Direcção-Geral de Florestas e da Circunscrição Florestal do Centro concluíram que a situação tem gerado «inúmeros impactos negativos, como a perda de produção (lenho, frutos, cogumelos), ou o aumento da erosão do solo, alteração dos recursos hídricos, perturbações da fauna, aumento da poluição atmosférica e alteração da paisagem». Como medidas de intervenção foi sugerida a criação da «rede regional de defesa da floresta contra incêndios, que prevê faixas de gestão de combustível, um mosaico de parcelas, rede viária hierarquizada, redes de pontos de água, de vigilância e apoio ao combate» dos fogos. Também a criação de Zonas de Intervenção Florestal foi considerada prioritária, dado que podem contribuir para ultrapassar o «excessivo emparcelamento fundiário, o desordenamento do espaço florestal e a ausência de gestão». Com estas medidas, «tenta-se aumentar a resistência dos povoamentos ao fogo, diminuir a área ardida e os efeitos dos incêndios», referem as conclusões das jornadas.

Um trabalho considerado «impossível» sem o cadastro da propriedade e parcerias público-privadas, nomeadamente através das Associações Florestais. Finalmente, foi sublinhado que a zona da Serra da Estrela, «pelas suas especificidades e importância dos recursos hídricos», deverá ter apoios financeiros diferenciados dos existentes, «que não visem apenas a produção lenhosa mas sim que estejam vocacionados para a protecção e conservação».

Luis Martins

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