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«Sou um privilegiado por poder fazer só música»

Há muito que usa a voz e os dedos para expressar o que tem na alma. «Quis viver da música para “alimentar” o gosto vitalício de tocar», confessa Rui Pedro Dias, membro dos Prós & Contras e Trivenção.

Começou no órgão aos 7 anos e continuou na guitarra aos 14, seguindo mais tarde para o Conservatório. Aos 34 anos tem um vasto percurso, com passagens pelo duo Rapazes do Bairro e Primogénitos. A música é a sua profissão, já que seguiu a docência e leciona na Guarda. «Houve sempre a vontade de estar no palco, o ensino veio depois», refere Rui, que se considera «um privilegiado por poder fazer só música». Porém, não foi fácil entrar nesse “mundo” e o «sonho», que esteve tão perto, acabou por cair cedo demais. «Os Primogénitos eram uma banda de originais. Chegámos a gravar em estúdio e a colaborar com o produtor Jonathan Miller», recorda. A “sorte” levou-os a apresentar três temas à Sony Music, que nos anos 90 procurava algo específico: «Os “sex-symbols” estavam na moda. Quando falaram em sermos uma “boysband” caiu o teto, pois viram tudo ao contrário», lamenta o músico.

«Em Portugal, as bandas com objetivo meramente musical não têm apoio, passa muito pela imagem», considera. Formados em 1995, os Primogénitos colidiram com duas barreiras: imagem e interioridade. «As portas fecharam-se todas. Não tínhamos dinheiro para uma edição de autores, como outros», indica. Desiludidos, os Primogénitos tiveram de «procurar vida», mas «não podíamos parar de tocar», recorda Rui Dias. Assim, o músico juntou-se a “Aidhuas” (Eduardo Martins), Artur Emídio, Paulo Pereira, Marcos Cavaleiro e Miguel Cordeiro e, em 1998, nasciam os Prós & Contras, um sexteto de “covers”. Atualmente, a banda mantém-se, sendo de registar a saída de Marcos e Miguel (seguiram para o jazz) e a entrada de Francisco Martins. Já “Aidhuas”, um companheiro de longa data, marca presença «quando pode».

Rui Dias é o vocalista, tocando teclas e guitarra acústica. Já os Trivenção contam com «as mesmas caras, num contexto diferente». Enquanto os Prós & Contras se “encaixam” entre o pop, rock e funk, os Trivenção são um tributo à música portuguesa de intervenção, lembrando nomes como Zeca Afonso ou Fausto. Com uma carreira já longa, a revolta toma conta de quem sente a música: «Os apoios da cultura estão a ser esmagados, o que me causa inquietação», confessa. Todavia, o desejo é perdurar neste “cantinho”, onde a banda é «uma família sem fim».

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