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Somos todos Gregos

Hic et Nunc

Numa autêntica debandada dos socráticos menores e num abandono quase definitivo da Escola Cínica, mal adivinhava Antístenes que o valor das ideias iria passar pela abstenção nas Grandes Opções e nos ditames económicos onde Pandora assume o papel de actriz principal.

O deve e haver está agora discriminado, nesse enorme livro de merceeiro, escapando Zeus e alguns apaniguados deste estranho mundo do Grande Olimpo Lusitano. (sinceramente não acredito em bruxas, mas…que as há, há).

Apodera-se então de nós um verdadeiro sentimento de revolta, muito idêntica à cólera de Poseidon, onde todos os esquemas (todos sem excepção) têm de ser contestados e, nem o remorso de Orestes, depois de castigado pelas malévolas Erínias, consegue resolver os problemas criados neste mundo dominado pelos mercados e os tradings rooms.

Neste confronto de deuses, apetece perguntar se Eles estão mesmo loucos, pois o monstro, que todos nós bem conhecemos e pelo qual estamos a pagar com língua de sete palmos, qual Górgona ajudado pela venenosa Hidra de Lerna (se não fosse grega questionaria a sua origem, talvez germânica) continuam a fazer questão de comparar gregos e romanos. De tentar misturar Gregos e Troianos onde nem Esparta escapa. E, se Zeus cumprimenta, faz vénias e salamaleques ao seu parceiro romano de coligação Júpiter, já Apolo percebe que o seu congénere romano é efectivamente o mesmo deus Apolo, o que dá para entender que tanto um como o outro são a face e a contra face da mesma moeda, com a particular diferença de apenas vestirem t-shirt diferente, aplicando-se assim o principio, todos diferentes – todos iguais, excepção feita às moscas, não às de Satre, mas às outras, as tais que independentemente da indumentária continuam a comer do mesmo pio. Nesta guerra do Peloponeso apenas Dionísio mantém diferenças com Baco, percebendo que o primeiro defende determinada região mais a norte, enquanto o segundo, defensor sulista, aposta num tinto de graduação e qualidade diferente. A referência a Atenas, Tebas ou Cidônia é sempre a mesma coisa. O discurso de púlpito, de argumentação estreita e superficial, bem estudado, compactado e direccionado para os mesmos de sempre, aproximando-se ao do disneyano Tio Patinhas e isto obriga-nos a perguntar:

Onde param as peças teatrais de Ésquilo, a poesia dessa ninfa bonita Galateia ou as esculturas do artista Aedo? Ou tudo foi trocado pela plutocracia, a tal que nos governa, e que nos vai obrigar a lutar por tudo aquilo que a Fortuna nos quer tirar. A fazer manifestações. A fazer greve geral. A voltar a colocar a fralda às varandas da urbe. E se Hades é o deus do mundo inferior, troquem o interior por experiencias desenvolvidas no litoral ou até outras experimentadas em várias ilhas. Não me importo que seja em Cós, Rodes ou Creta.

Assumindo as geográficas e referenciais diferenças, dá para concluir, que quer nós, quer a Grécia, iremos oferecer a Suas Exas. sem rosto, uma enorme vara de porcos a troco de uma única chouriça, sujeitando-nos a uma pressão reles e ordinária de boys, troikas e apparatchikes, com consequência certa que no espaço temporal de Dezembro de 2011 a Dezembro de 2012, vão entrar menos 7.000 euros em casa de uma família de dois funcionários públicos da classe média e, independentemente da argumentação política chico esperta e balofa, “de isto não estar como a Grécia”, bem vistas as coisas, Gregos somos todos nós.

Por: Albino Bárbara

* Inicia colaboração mensal

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