Arquivo

Sócrates 1 – Passos 5 (e o que falta fazer)

O regresso aos mercados foi um sucesso. Como aqui escrevi há dois dias, isso não se sente no dia-a-dia de cada um de nós (nem sabemos quando vai sentir-se), mas foi importante para o país e para a perceção que o mundo tem de nós.

Façamos um breve exercício baseado em números fornecidos hoje pelo ‘Público’. Comparemos a última emissão de dívida de Sócrates com a primeira de Passos. O montante total que nos foi emprestado foi de 2500 milhões (Passos) e 3500 milhões (Sócrates) – significa que o ex-primeiro-ministro arriscou mais, podemos pô-lo a vencer 1-0. A maturidade, isto é, o tempo em que devemos pagar a dívida, é igual – cinco anos (há empate). A procura – isto é a verba total que esteve em cima da mesa por parte dos que nos emprestavam – foi de sete mil milhões (Sócrates) e 12 mil milhões (Passos) – há aqui uma clara vantagem para a Passos (1-1). A percentagem de investidores estrangeiros (que mede a nossa confiança lá fora) foi de 69% (Sócrates) e 93% (Passos) – 1-2. O peso dos bancos, ou seja, daqueles que quiseram comprar dívida quantos eram bancos, foi de 32% (Sócrates) para 9% (Passos) – 1-3! O número de investidores interessados foi de 160 (Sócrates) para 289 (Passos) – 1-4. Finalmente, a taxa de juro, ou seja quanto vamos pagar pelo que nos emprestaram, que é o mais importante, foi de 6,46% (Sócrates) para 4,89% (Passos). 1-5, foi goleada! Em todos os indicadores importantes, que – atenção! – estavam estabelecidos antes do empréstimo, esta emissão correu melhor.

Nos nossos bolsos, isto não se sente. E muito trabalho há a fazer para que devolvam aos privados, aos cidadãos, o dinheiro que nos tiraram. Mas, para todos os que dizem que é preciso apostar mais no investimento (o que é verdade) esta notícia é excelente, porque significa que, embora a uma taxa ainda muito alta o país já se consegue financiar sem depender da troika. É tempo, pois, também daqueles que gritam ‘a troika que se lixe, queremos as nossas vidas’ celebrarem com Gaspar e Passos o regresso aos mercados. Uma última nota, o rating das agências não melhorou, pelo que sendo importante. o que elas dizem não é decisivo.

Para aqueles que, como eu, temem um excesso de euforia que, juntamente com as eleições autárquicas, adie todas as reformas necessárias, é altura de ter um pouco mais de paciência e continuar a lembrar que as reformas são necessárias, porque a dívida é enorme e aumentou ontem mais 2500 milhões de euros que temos de pagar até 2018 à taxa de 4,89%.

Por: Henrique Monteiro

Sobre o autor

Leave a Reply